COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

1ª quinzena de dezembro - Coluna 101
(Próxima coluna: 18/12)

O grande "G"

Gervásio era o filho mais novo de Genoveva e Gelsom Gouveia, irmão de Genalva, Geolália e Gemilsom. Morava em Geordanésia, no bairro Gentalha, Rua Gino Gentil, no centro geodésico da rua, fosse lá o que isso quisesse dizer, pois ali ninguém tinha número nas casas – sabia-se quem era vizinho de quem, qual a cor da casa, a casa com goiabeira, a casa com graviola, a casa sem árvores, a casa com três gatos, e outros detalhes.
Gostava dessas coincidências. Dizia que ia se casar com alguém cujo nome começasse com G e continuar a tradição familiar. Caprichava na escrita; treinava gês e mais gês: floreados, simples, letra de mão ou de máquina. Quando ficasse rico – dizia – ia conhecer Gênova, fosse lá onde fosse.

Quando estava com 10 anos, o pai faleceu, vítima de gota, conseqüência da genebra consumida na volta do trabalho na Garrafaria Girafa. A mãe teve que ir trabalhar no Grupo Gentalha. Os irmãos foram pra Garagem da Gruta, exceto Genalva, que ficou com os cuidados da casa.

Ele então cursava o Ginásio Georgina Giovani, quando se apaixonou por dona Glória, a professora. Porém, em seguida, ela foi transferida para a escola Ministro Meira, no bairro de Matinhos. Deixando os preconceitos de lado, pediu transferência, embora não entendesse a razão dessa mudança dela para M, letra tão manhosa e merenquetrefe. M lembrava maresia, marmota, montanha, maremoto, coisas com as quais ele não simpatizava. Gostava mesmo era de gororoba, goiaba, gabiroba, geléia, goma, gruta, gema, gato, e tantos outros gês que embelezavam o mundo.

Como os bairros tinham distância de duas conduções, Genalva acompanhou-o no primeiro dia de aula. Não deu outra: ele odiou aquela série de emes. De cara descobriu que sua amada era, na verdade, Maria da Glória. Para completar, ao seu lado sentou-se Marinete (à esquerda) e Mônica (à direita), que não paravam de tagarelar naquele estranho idioma de emes. À sua frente sentou-se Margarida, irmã de Maurício, que tentou fazer amizade com ele, até que lhe perguntassem o nome, ao que torceram o nariz e lhe viraram as costas: "Gente com G... Hummm!".
Foi no intervalo que ele avistou sua salvação: um orelhão!
Saiu correndo, coração à boca, e discou o número anotadinho no papel.
Quase chorando, conseguiu balbuciar:

— Genalva, vem me buscar que eu estou odiando.

Depois disso Gervásio resolveu ficar na área dos gês mesmo. Casou-se com Geralda e é pai de Gérson e Gabriela. Foi garçom e hoje é gerente no Gambrinus. Mudou de religião e progrediu na vida, graças ao grande G.


Arquivo das colunas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78 , 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100

« Voltar