"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO
Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
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Coluna nº 55, de 15/5/2009
(próxima: 15/6)
1. Em 1959, o escritor Lúcio Cardoso, que só depois de muito tempo de sua morte passou a ser admirado e respeitado, lançou uma obra prima, "Crônica da Casa Assassinada". Muita gente o considera o Dostoievski brasileiro. Lúcio Cardoso morreu em 1968. Há um trecho escrito por ele em maio de 1952 de que não me esqueço: "O sol que arde e a incrível, a incoerente cidade em que vivem os homens. Terrível reconstrui-la em pensamento: o asfalto, as pontes, as janelas fechadas, os becos onde constante a cachaça escorre e fumega as vitrinas que se acendem com olhos criativos, as pessoas que caminham entre a luz e o luto. Espanta-me de que tudo prossiga sem uma catástrofe. O sol gira (gira, perpétua rosa!) entre milhões de faúlhas inocentes e azuis".
2. Tinha muitas dores de garganta nos meus 12 anos. Minhas amídalas inchavam e me deixavam com a pulga atrás da orelha. Eu me perguntava: será que vou morrer disso? De repente, de uma hora para outra, as dores de garganta passaram. Não me esqueço que o Arline Barros, quando tinha dores de garganta, aparecia com um pano enrolado no pescoço. Dona Zelinda, mãe dele, colocava fomentação no pano.
3. Triste verão se passou em Varginha no sudeste de dezembro de 2008 a março de 2009. Sim, choveu muito. Nuvens negras regurgitaram no céu. A cidade não tinha tempo de se arrumar. Me pareceu até uma moça feia. E muito calor. Gente reclamando por todo lado.
4. Em janeiro deste ano tivemos, em Varginha, uma tarde de vento fortíssimo em temporal desagradável. Se fosse apenas um leve ventinho, pra dizer a verdade, um vento brando, uma chuva de verão, muito comum por aqui, sem quase nenhuma consequência, eu não estaria rememorando a tarde que destelhou casas, derrubou muros e desgalhou árvores. O que será, meu Deus, que está acontecendo com nosso planeta? Foram temporais, enchentes e mortes para todo lado. Um Deus nos acuda!
5. Há realmente uma crise no ar englobando praticamente o mundo inteiro. Sem dúvida, uma crise econômica. A gente percebe que também há uma crise política. A curiosidade sempre tende a aumentar quando há crieses deste tipo. A busca por novos conhecimentos aceleram. E o mundo jamais irá chegar na idade da razão.
6. meu coração tem vale de equações
com um ananás que se lhe encerra o peito,
u'a serra estridente lhe remonta
de paixões o séquito de entranhas.
de as estradas serem o ninho breve
sobra o esgoto da linha do horizonte.
a cumiada do olho, brusco traço
da vida, pisa língua e estrato, o corpo
uma beleza, esta que me caminha.
(per augusto)
- Romério Rômulo
7. Uma das minhas curiosidades quando estive em Londres era conhecer o antigo bairro Alfama. Não por causa do fado, mas pelo valor histórico e bravura de ter resistido ao grande terremoto de Lisboa, há muitos anos atrás. A aparência e ares da Idade Média lá estavam. Também porque meu avô falava maravilhas de Alfama. A Antiguidade passeou comigo pelas ruelas estreitas calçadas de pedras. Alfama me pareceu alguma coisa misteriosa e diferente dentro de Lisboa.
8. Em maio de 1995, num jornal paulista, li que o escritor brasileiro Paulo Coelho havia vendido na França mais de 350 mil exemplares do seu livro "O Alquimista", tendo ganho o Grande Prêmio Literário das leitoras da revista "Elle". No entanto, o livro posterior "Na Margem do Rio Pietra Eu Sentei e Chorei" recebeu duríssimas críticas dos jornais franceses "Le Monde" e "Le Figaro". Aproveito para relembrar o poeta Carlos Nejar – gaúcho, atualmente residente em Vitória, no Espírito Santo –, que recebeu do Clube de Poesia de São Paulo o Prêmio Cassiano Ricardo por sua produção no biênio 1993/1994.
9. Toda vez que ouço a melodia "O menino de Braçanã", de Luiz Vieira e Arnaldo Passos, me recordo de Milton Valin, que, toda vez que ia embora, se despedia da gente, dizendo: "É tarde eu já vou indo/ preciso ir embora/ té manhã"... Lembro-me também do Antonio Borba que gostava de cantar esta música. Será que ainda gosta?
10. Depois que falei sobre a mudança de nomes primitivos de cidades brasileiras, especialmente mineiras, encontro uma pessoa aqui outra acolá que me dá o nome anterior de uma ou outra cidade. É o que aconteceu na semana passada quando fiquei sabendo que o nome da cidade de Cambuquira, terra do poeta Cícero Acaiaba, era São Sebastião de Cambuquira, tendo sido também Águas Virtuosas de Cambuquira. Realmente as águas de lá são virtuosas.
11. Quando começaram a consturir o Jardim Andere, na década de cinquenta, pensei: Varginha está iniciando a construção de um mundo novo. Sem dúvida, a paisagem era de um mundo novo. Minha filha Isabel e o marido Paulo, na década de oitenta, foram morar lá. E lance a lance as pessoas foram compondo o enredo de suas vidas.
12. Em toda casa que vou existem objetos que lembram o passado. Eu gostaria de rever hoje o passado. Sentir a grande felicidade, a vida tranquila, a vida gostosa daquele tempo. Mas minha história está guardada no meu pensamento.
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