COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

2ª quinzena de dezembro 2007 - Coluna 102
(Próxima coluna: 18/1)

Cartinha de Natal 2007

Como todo ano, lá vai minha cartinha pro bom velhinho:

Querido Papai Noel,

O mundo anda às avessas, sabe. Os adultos estão perdidos, às voltas com mil pensamentos lúgubres, com a conseqüência de seus atos enlouquecidos. Ficam perdidos em reciclagem de lixo, combustível sócio-ecologicamente correto, guerras insanas (elas sempre o são, não é mesmo?), poluição e destruição da camada de ozônio, aquecimento da atmosfera, acidentes naturais como tremores e tsunamis ou nem tão naturais como aviões que caem, violência urbana, e tantas outras coisas feias (até parecem grandes palavrões, daqueles que a mãe da gente dizia que lavaria nossa boca com sabão, caso os proferíssemos inocentemente, achando que tínhamos apenas descoberto uma nova, grande e bonita palavra). Aqui no Brasil, as maiores preocupações são com os juros bancários, as falcatruas políticas, a violência na cidade mais bonita que já vi, mendigos sendo atacados, e, pra ser sincera, fora isso, apenas a vida pessoal dos artistas chega a ser notícia além desses e de alguns poucos outros fatos esparsamente veiculados a título de manchete.

O homem continua preocupado em fazer obras faraônicas, mudar o curso dos rios, ser herói sem causa nobre e outros atos insanos de vaidade.

E, talvez por conseqüência de toda essa maluquice, a colheita de almas também anda desequilibrada. Não sei ao certo, mas creio que isso também constitua um desequilíbrio, pois algumas pessoas boas andam sendo arrebatadas ou castigadas em detrimento a péssimos exemplares humanos que continuam por aí, castigando alguma ou algumas pessoas de bem.
Será que não dava pra bater um papo com algum superior, no sentido de fazerem um acerto melhor nessa peneirada de gente boa e gente ruim? Será que não seria possível aplacar tanto pensamento de péssima qualidade e tanta ação violenta? Por que o homem não se ocupa mais com o semelhante? Onde estão as preocupações governamentais com a fome e a educação? Perdemos Deus? Onde está o respeito à infância? Onde você está, Papai Noel, que não lhe enxergo mais dentro desse novo espírito natalino repleto de interesses comerciais?

Sabe, eu sou teimosa, e fico tentando ainda ter fé, ainda achar que é possível, ainda sonhar com um mundo melhor. E por isso mesmo, farei rabanadas para os famintos, colocarei os sapatinhos dos desafortunados na janela, irei à missa do galo redimir o mundo de seus pecados, abrirei a porta a todos os filhos de Deus, na esperança de que um deles seja o Salvador, e encherei os pés da árvore de presentes feitos por mim. Farei isso e mais, se o senhor me der uma palavra que seja, confirmando que este será um Natal de paz e que o seu espírito voltará a habitar os corações dos seres humanos. Ta, todos eu sei que é exagero, mas começamos com poucos, e (quem sabe!) a moda vai pegando, vamos contaminando os outros!

Esta é uma carta ingênua, eu sei, mas quem pode negar que a maioria de nós, pobres mortais, sente falta daqueles velhos bons Natais do tempo da infância, quando acreditávamos que tudo isso seria possível, que mudaríamos o mundo pra melhor, que seríamos heróis (nem que fosse de algum gibi ou fotonovela), e que o mundo floresceria em paz e harmonia?

Aguardo sua visita à meia noite do dia 24 de dezembro, com um copo de leite e biscoitinhos caseiros. Ao pé da lareira, conversaremos muito e, quem sabe, o senhor me traga notícias boas e alguma esperança, por menor que seja?

Até lá,

Um ser humano que ainda tem fé na própria raça.


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