COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

2ª quinzena de março de 2008 - Coluna 105
(Próxima coluna: 03/04)

Mais um Domingo

Você está em crise intelectual por estar convivendo com medíocres?

Não se aflija: tudo pode piorar! Você pode ser selecionado pra ir pro BigBrother, por exemplo, ou entrar numa sala de Chat qualquer da vida, daquelas por idade/mais de 50, e se deparar com qualquer tipo de bobagem, como desabafos políticos desconexos de algum bêbado sem noção alguma de nada, vestido num nick qualquer, ou historinhas cretinóides do tipo: "... Entrei e tomei um lugar no sofá, quando concentrei o olhar na minha anfitriã fiquei mais surpreso ainda: Com um dos pés mais a frente, como se fosse dar um passo; com um dos braços articulado e com o punho encolhido mantinha a posição de mão na cintura, com a outra levantava a saia, deixando ver a coxa partir da virilha que ficara emoldurada pela barra da saia. Não restava dúvidas, estava na frente da entidade mágica..."

Sofrível, né? E olha que ainda fui boazinha e diminuí o nível de besteirol! Alguém entende que pose é essa? Assustada, porém, de forma delicada (há que se ter cuidado ao lidar com gênios e loucos), perguntei: "Você é escritor?". E a resposta em tom de superioridade: "Não, não tenho cacoete de escritor!". E a coisa vai além, quando meu interlocutor avisa que a melhor parte da história (que ele jura que aconteceu de fato), está por vir, quando a criatura descrita acima (aquela, da pose ininteligível) resolve "receber" uma "Pomba Gira" em plena garupa de sua motocicleta...

Viu, como pode piorar? Que imaginação, héim? Quanta criatividade! Mas, nesse mundo de fantasias virtuais, todos são o que quiserem ser: lindos, milionários, e até mesmo (pseudo)inteligentes.

Outra opção pra se sentir enfadado com o nível da cara-de-pau de quem acha que se comunica é ligar a TV a cabo local de uma pequena cidade incrustada em alguma região que ainda sobrevive entre duas fases históricas do passado: faroeste e ditadura militar, e deparar-se com a apresentadora, em tom de madame recém formada em alguma escola de etiqueta (nem ouse pensar em Socilla ou Madame Leitão, não se esqueça de nossa localização geográfica), e a mocelha (mocinha velha) com olhinhos de texugo, em pleno domingo à tarde exclama (e repete várias vezes a frase): "quando eu 'folho' o jornal...!". Sentiu o drama? Não é pra entrar em crise intelectual séria, com direito à depressão e tudo o mais?

Mas, em terra de índio... Cacique é rei. E, no caso exposto, o que vale é o glamour, o brilho em plena duas horas da tarde de um domingo ensolarado e enjoado.

Se mudar de canal, piora. Você está arriscado a ouvir frases tão bem montadas quanto a história do tal escritor sem cacoete do início desta crônica. A novelha (nova velha) logo solta sua frase de (d)efeito procurando ser ativista de alguma facção indiscreta de auxílio social, e solta um verdadeiro colar de pérola ao longo de seu discurso socialmente (in)correto: " A necessidade das pessoas tá contribuindo..."; "Estive ca Fulana e ca Cicrana...", "Você pode continuar ligando e deixando seu telefone pá participar...".

Que charme, héim? Que tv culturalmente perfeita e bem orientada. Realmente a gente fica mais "curta" vendo a programação local. Mas é chique ser televisivo aqui na Província, não importa a que preço.

Enfim, todo encantamento tem sua cota de delírio. Mas acho que ainda prefiro assistir ao Faustão, em meio ao burburinho das crianças do vizinho, dos latidos dos cachorros pela disputa de um ossinho de galinha largado displicentemente sobre a toalha outrora alva, agora fartamente estampada em tons de molho do macarrão da mama.

Pois é: domingo é fo...go!!!


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