Coluna de Rogel Samuel
Rogel Samuel é Doutor em
Letras e Professor aposentado da Pós da UFRJ. poeta, romancista,
cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://www.geocities.com/rogelsamuel
Nº 108 - 2ª quinzena maio
(próxima coluna: 10/06)
O HINO
Há um hino brasileiro que canta assim:
“Viva a Mãe de Deus e nossa
Sem pecado concebida
Salve Virgem Imaculada
Ó Senhora Aparecida.”
Ao ouvi-lo, no Campo de Marte, o Papa animou-se e começou a sorrir. O comentarista da televisão disse que ele sorria porque ia dar a bênção... Mas não: Bento 16 alegrou-se por ouvir aquele hino. Ele já se tinha levantado do trono de madeira onde se assentara e caminhava. Ele já andava, sério, circunspeto, misterioso, sereno, em direção à saída, já estava em pleno movimento quando a grande massa humana começou a cantar: “Viva a Mãe de Deus e nossa / Sem pecado concebida / Salve Virgem Imaculada / Ó Senhora Aparecida.”
Foi aí que ele começou a sorrir, a ser feliz, a animar-se com aquele sopro de alegria que vinha do cântico.
Quando esteve no Brasil, o Papa João 23 disse: “Desde que pus os pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde passei, ouvi este cântico. Ele é, na ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma, uma saudação, uma invocação cheia de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo verdadeira Mãe de Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida para ser nossa Mãe.” (Pronunciamentos do Papa no Brasil, Edit. Vozes, Petrópolis 1980).
Que hino é esse?
Pelo que descobri (mas posso estar errado), parece que se chama “Hino do peregrino”, e é composição do Padre João L. Talarico e de J. Vieira de Azevedo. Não sei. Só sei que é belo. E invocador.
Mas enquanto escrevo esta crônica nada mais sei. Assim o hino canta:
Viva a Mãe de Deus e nossa
Sem pecado concebida
Salve Virgem Imaculada
Ó Senhora Aparecida
Aqui estão vossos devotos
Cheios de fé incendida
De conforto e de esperança
Ó Senhora Aparecida
Virgem Santa Virgem bela
Mãe amável, Mãe querida
Amparai-nos, socorrei-nos
Ó Senhora Aparecida.
O hinário a Maria e outras santas é muito antigo no Brasil e Portugal. Já José de Anchieta escrevia: “Cordeirinha linda, / Como folga o povo, / Porque vossa vinda / Lhe dá lume novo. / Cordeirinha santa, / De Jesus querida, / Vossa santa vida / O Diabo espanta. / Por isso vos canta / porque vossa vinda / lhe dá lume novo.“ (Pe. Joseph de Anchieta, SJ: Obras completas V, sv. 1, Ed. Loyola, São Paulo, 1984, p. 112-13.)
Na literatura portuguesa, devemos a Gil Vicente, no “Auto da alma”, um dos seus melhores momentos:
Se se pudesse dizer
se se pudesse rezar
tanta dor;
Se se pudesse fazer
podermos ver
qual estáveis ao cravar
do Redentor!
Ó fermosa face bela,
ó resplandor divinal,
que sentistes,
quando a cruz se pôs à vela,
e posto nela
o filho celestial
que paristes?
Vendo por cima da gente
assornar vosso conforto
tão chagado,
cravado tão cruelmente,
e vós presente,
vendo-vos ser mãe do morto,
e justiçado!
Ó Rainha delicada,
santidade escurecida,
quem não chora
em ver morta e debruçada
a avogada,
a força da nossa vida?
Apesar da media, o Papa Bento 16 pode considerar sua viagem um sucesso. A media não poupou: disse que ele criticou a imprensa, disse que “brasileiro aplaude tudo”. Naqueles dias nós brasileiros fomos chamados de “fiéis”, falaram em “discurso duro” (que eu não ouvi), deixamos de ser seres humanos para ser “fiéis” e do discurso de 30 minutos tiraram uma frase e a colocaram na primeira página do jornal...
Mas longe, bem além, acima daquela mesquinharia, ouvia-se um belíssimo cântico:
Viva a Mãe de Deus e nossa
Sem pecado concebida
Salve Virgem Imaculada
Ó Senhora Aparecida!
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