Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 39
(Próxima: 20/1)


Divindades agrestes greco-romanas

Na Grécia, as atividades agrícolas eram desenvolvidas em planícies e encostas de montanhas. Para chegar a esses locais era preciso muitas vezes percorrer bosques, florestas e caminhos perigosos, por isso era importante cultivar a terra e cuidar dos animais sabendo da proteção dos deuses. Deméter e Dioniso eram celebrados como divindades agrícolas, mas outras divindades secundárias eram cultuadas pelos camponeses, pois atendiam mais facilmente quando solicitadas porque moravam nos bosques.

Egipãs, Silenos e Sátiros eram habitantes dos bosques e montanhas que exerciam a função de proteger homens e animais que viviam em contato com a natureza. Eles participavam alegremente do cortejo de Dioniso e adoravam vinho e festas. Os Sátiros tinham traços de bode, o animal que se sacrificava a Dioniso, que foi criado por Ninfas e Sátiros no monte Nisa, após ser transformado em bode por Zeus. A arte normalmente mostra os Sátiros dançando, tocando instrumentos e perseguindo as Ninfas.

O adolescente Dioniso colheu uvas, espremeu em taças e bebeu em companhia de sua corte. O novo néctar era o vinho. Bebendo-o várias vezes, Dioniso, os Sátiros e as Ninfas dançaram ao som dos címbalos até a embriaguez. Todo ano era celebrada a festa do vinho, quando os participantes se embriagavam relembrando os companheiros de Dioniso. Dançavam , cantavam e bebiam até caírem desfalecidos, não só pelo vinho, mas pelo estado de êxtase e entusiasmo coletivo provocado pelo deus.

Os Egipãs descendem de   – deus dos bosques, rebanhos e pastores – e eram descritos como pequenos e peludos, com patas de cabra, chifres e extremidades do corpo como cauda de peixe. Sileno era considerado o pai nutridor de Dioniso. Há uma estátua antiga de Sileno tocando címbalos pra distrair Dioniso ainda menino. Os Silenos personificam os gênios das águas, por isso tinham cauda, mas as patas e orelhas eram de cavalo, animal que simboliza a água.

Na mitologia romana havia divindades como Fauno e Silvano. A figura agreste mais importante era Fauno, que tinha o dom da profecia, mas só dizia algo quando capturado.

Após as interferências gregas, suas características eram tão parecidas com as de Pã, que era confundido com ele. Descendentes de Fauno, os Faunos herdaram o dom da profecia e também tinham chifres e patas de bode.

Os Silvanos eram descendentes de Silvano, o adivinho do bosque mais popular entre os romanos, representado como um velho acompanhado de um cão. Protegia o lar dos camponeses, cuidava de plantações e pastagens, representado como boneco de pano e palha (igual a um espantalho) que os camponeses colocavam nos campos para evitar aproximação de quem pudesse danificar as plantas.

As representações das divindades agrestes foram temas das artes plásticas, principalmente nas pinturas renascentista e barroca. Uma famosa tela de Rubens (século XVI) mostra os Faunos com traços bestiais e chifres. Sileno foi representado gordo, rodeado de Sátiros, Ninfas e uvas sobre ele.

Os semideuses agrestes eram temidos e cultuados, mas não havia festas próprias ou templos só para eles, geralmente eram oferecidos animais e produtos da terra em sua homenagem.


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