Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 40
(Próxima: 5/2)

Hermes, o mais ocupado dos deuses

Hermes foi fruto de um dos amores de Zeus: Maia, filha do Titã Atlas. A irada esposa de Zeus fez com que Maia se escondesse e ela deu à luz em uma caverna no Monte Cilene. Recém-nascido, Hermes deixou a mãe e saiu em busca de aventura. Foi ao monte onde pastava o gado do rei Admeto, guardado pelo irmão Apolo, e o roubou. Ofereceu dois animais aos deuses e, das tripas secas e esticadas, fez as cordas com que prendeu no casco de uma tartaruga, criando a lira.

Quando descobriu o acontecido, Apolo levou o astuto ladrão para ser julgado por Zeus. No início ele mentiu, mas confessou e jurou que nunca mais mentiria. Aliás, ele jurou, mas disse que não podia prometer contar a verdade inteira. Hermes se tornou símbolo de trapaça, por isso era protetor dos comerciantes e ladrões. E já que essas atividades dependem de argumentação, também era considerado o deus da eloqüência.

Uma lenda diz que Hermes trocou sua lira pelo bastão de ouro de Apolo, com o qual separou duas serpentes em luta, que se entrelaçaram, dando origem ao famoso caduceu, bastão com duas serpentes simétricas e opostas em espirais ascendentes, e duas asas na extremidade superior. As serpentes dispostas assim simbolizam o equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo. Hoje é emblema da ciência médica.

Hermes era ágil e veloz com suas sandálias dotadas de asas, por isso era protetor dos viajantes e estradas. Como corredor incansável, também se tornou protetor dos atletas que se exercitavam nos ginásios. Hermes foi uma divindade complexa, com vários atributos, mas sua principal função era a de mensageiro dos deuses. Como ia para todos os lados, era o único deus com acesso aos três reinos: o Olimpo, a terra dos homens e o Hades. Era ele quem conduzia a alma dos mortos para ser julgada no Hades.

Devido aos seus diferentes atributos, a representação de Hermes variava bastante. A mais freqüente foi a de um jovem com sandálias aladas e chapéu com asas. Outra representação famosa era a estátua de mármore Praxíteles, em que Hermes carrega o pequeno Dioniso no colo. Foi Hermes quem salvou Dioniso, e o levou para um lugar seguro, após o seu nascimento.

Hermes aparece em muitas histórias, normalmente encarregado das missões delicadas. Após o dilúvio, foi portador da palavra divina a Deucalião. Através dele, Hércules recebeu sua espada. Foi enviado à ilha de Calipso com o recado para que ela permitisse a partida de Ulisses, preso há anos com ela. Levou as deusas Hera, Afrodite e Atena até o Monte Idade para que Páris fosse juiz da disputa entre elas.

Com o nome latino de Mercúrio, Hermes era invocado nas cerimônias dos magos como aquele que transmitia as fórmulas mágicas. O culto de Hermes sobreviveu através de Hermes Trismegisto, “Hermes três vezes Máximo”, resultado do sincretismo entre o Hermes grego, o Thoth egípcio e o Mercúrio romano.

A partir do primeiro século da era cristã surgiram tratados de caráter esotérico com o nome de Corpus Hermeticum, denominação que remonta ao século XV. Esses escritos falavam de Religião, Filosofia, Magia, Alquimia e Astrologia, e inspiraram Gnósticos, neoplatônicos, neopitagóricos, etc.


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