COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

1ª quinzena de outubro de 2008 - Coluna 117
(Próxima coluna: 18/10)

Pipoca quentinha?

Ali pelos idos de 1930/40, o menino, ainda de calças curtas, vendia pipocas à porta do Grupo Conde Parnaíba e no Siqueira de Morais, na então pequena cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. Sua mãe tinha uma pequena banca de verduras em frente à escola (uma delas). Ainda nessa fase, se apaixonou pela menina bonita, vistosa. E esse amor foi alento de vida.

O menino, um irmão, duas irmãs e a mãe, todos abandonados pelo pai, que se refastelava ao passear em frente à pequena mercearia da família, exibindo suas amantes e seu bem estar.

Talvez o desprezo daquele pai, ou alguma outra força interior, tenham alavancado uma força de vontade super poderosa, que iria alterar completamente seu destino. Com muito esforço e dedicação, estudava e vendia pipocas. E estudou mais. Chegou ao curso de direito. E fez amizade com um famoso advogado tributarista da cidade, pessoa ilustre, de clientela importante, que, ao verificar sua determinação, convidou-o a estagiar em seu escritório. Sorte de uns, azar ou fatalidade de outros, o conhecido advogado faleceu algum tempo depois. A clientela, já acostumada ao talento que despontava, continuou fiel ao mesmo escritório, agora com novo titular. Sangue novo. Emergente. Exemplo de vida.

A acrescentar, apenas, que entre um estudo e outro, entre um esforço e dois, o menino, agora homem feito, conquistou a sua eterna musa.

Décadas depois do início dessa história, encontrei-me frente a frente com um senhor, empresário de respeito na cidade, muito bem sucedido. Tanto que na parede de seu escritório exibia, orgulhosamente, fotografias de suas usinas particulares de álcool, destinadas apenas ao abastecimento da frota de carros da empresa e da família. Extasiada, pois sempre ouvira falar dele a título de força de vontade e determinação, lhe contei o sobrenome de minha família, o que o deixou visivelmente desconcertado. Desandou a mudar de assunto, alegou repentinos compromissos esquecidos, renegou seu passado como se fosse vergonhoso o fato de ter se feito sozinho, com tanta garra. Logo a mim, descendente de uma família inteira que contava sua história como exemplo de força, virtude e honestidade. Essa a razão que me faz ocultar seu nome, apesar do herói dessa verdadeira saga já ter falecido. Mas quem viveu nessa época ou descende de quem conhece a história, há de se lembrar.

Nessa era de injustiça, desalento e desesperança, um resgate, quem sabe, poderia ser exemplo a tantos outros meninos perdidos nesses novos tempos...


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