Vitral
O grito do guerreiro é silencioso.
A onça raivosa é silenciosa.
O canto do sabiá é silencios
A compoteira que foi de vovó
já não existe
: agora é cacos azuis.
Minha tia predileta
que me ensinou tanta história
de repente me faltou.
Meu primeiro namorado
casou e sumiu no mundo
e me casei com o segundo.
Perdi as cores mais vivas
o colo quente e as cantigas
e nunca mais vou ser virgem.
O que se perde em história
vira vitral na memória
o saldo da vida inteira
vale mais que a compoteira
a ternura que se sente
ensina que o amor existe
e já dizia Vinicius
docemente
: é melhor ser alegre
que ser triste.
Voo
Abri a janela
e o pequeno silêncio
voou
diluído em luz.
Adelaide Amorim