A vontade de ser santa
Era tanta
Que virou São Sebastião
Entregando ao inimigo o arco e as flechas
Chamaram-me tormenta porque respiro
e invado
mas sou luz e lua no poente
água subterrânea que corre sem ruído
entardeço lagoa e garça de voo largo
Não é fogo e ventania o que procuro
apenas o estio de seus olhos vagos
que veem e me sabem paisagem
Arrepio como planta que finca raízes
Num velho muro de pedra
Temo como se um tremor de terra tirasse
Do chão os pés de uma criança
E espero
Que nunca passe
Que nunca passe
Sim, eu te traí
Mas não te traí com o corpo
Te traí quando montava seu corpo
Querendo muito um outro você
Te traí quando meus lábios
Pediam outro gosto em teu beijo
Te traí quando esperei palavras
Que não vieram da tua boca