para o poeta importa a luz
invadindo a sala
iluminando a poeira dos quadros
queimando suavemente o corpo da mulher nua
dourando frutas apodrecidas sobre a mesa
as pessoas de passo apressado
espremidas
oprimidas
notícias de guerra
a morte banalizada
discurso dos vencidos
discurso absurdo dos que acreditam na transformação da humanidade
para o poeta o que importa
não tem a menor importância
para quem não percebe as luzes da manhã
para quem não ama
e mata inocentes nas ruas do Rio
instaurando o terror
tornando refém a cidade inteira
para o poeta o que importa
não diminuirá a fúria assassina dos narcotraficantes
não alterará a cotação do dólar
não salvará a América latina dos ridículos tiranos.
para o poeta o que importa
não impedirá de torná-lo mais ou menos humano
será grito abafado
para acreditar no sonho
será a essência da vida mais forte do que poderia supor.