Escolher um caderninho de capa preta
Que caiba na bolsa
E suporte o peso das palavras esferográficas
Quando viver é impreciso
E o inferno são os outros já dizia Sartre
Não me faça a festa
Não me diga palavra de honra
Não me favoreça vida fácil
Não me devolva o gato
Não me espie pela fresta
Não me seduza mal
Não me crie liberdade
Não me finja maravilha que nem assim.
Quer sangrar, eu ensino.
Esteja só
Tranque a porta, feche a janela e desligue o telefone.
Não pegue qualquer vaso sangüíneo
escolha a artéria principal
aquela cheia de você
teu rio prisioneiro.
Olhe no espelho o que há de desespero e adeus
e abra a comporta com um canivete infalível.
Esqueça as compressas, as toalhas
os rolos de esparadrapo.
Não diga nada, não se despeça.
Mate-se simplesmente.
Quando acordar dê graças à vida.