Quando ele partiu
o dia amanhecera a nossa cara
As flores de Enrico Bianco
em total abandono
se abriam
Enquanto
Kazuo Ohno lindamente
para nós dançava
Quando ele partiu
Orides decretou a crueldade
dos signos e do amor
Quando ele partiu
não olhou para trás
Não disse adeus
ou algo mais
rasgou a frase tatuada em meu braço
E comeu sem cerimônia, o poema
Da janela posso ver a pequena ponte submersa.
Dois rios me alagam: um de águas, que corta a rua,
outro de sangue, cortando o meio das minhas pernas.
Certamente não terás como atravessar os rios.
Transpor a ponte.
Claro, eu bem sei, quando queres, chegas.
Mas não é o caso.
Sem fada madrinha espero até a meia noite, quando penso: não virás, é certo.
Guardo atrás da porta o segredo e o desejo.