Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 44
(Próxima: 20/04)

Ilíada, A Ira de Aquiles

Aquiles era filho do mortal Peleu com a nereida Tétis, que foi desejada por Zeus e Poseidon. Tétis teve que casar com um marido mortal por causa da revelação de um oráculo: se ela tivesse um filho com Zeus ou Poseidon, ele seria mais poderoso que o pai. Não se conformando com a mortalidade do marido, Tétis tentou imortalizar os filhos. Peleu pegou Aquiles no momento em que ela segurava o menino pelo calcanhar para torná-lo invulnerável . O herói se tornou invulnerável, exceto no calcanhar.

As aventuras mais famosas de Aquiles aconteceram na Guerra de Tróia e foram contadas na Ilíada , que muitos consideram como a história dessa guerra, mas no começo da Ilíada os gregos já lutavam com os troianos há nove anos. No canto I da narrativa sabemos o objetivo da narração:

Canta, ó deusa, a ira funesta de Aquiles Pelida, ira
que tantas desgraças trouxe aos Aqueus e fez baixar ao Hades
muitas almas de destemidos heróis, dando-os a eles mesmos
em repasto aos cães e a todas as aves de rapina: cumpriu-se
o desígnio de Zeus, em razão da contenda, que, desde o início,
lançou em discórdia o Atrida, príncipe dos guerreiros,
e o divino Aquiles.

A Ilíada conta o desentendimento de Aquiles com Agamêmnon e as influências dessa briga no rumo da famosa guerra. Os gregos estavam em um acampamento ao redor de Tróia, cansados e chateados por ainda não terem conseguido a vitória final. Agamêmnon recebeu Criseida, filha de um sacerdote de Apolo, como “prêmio” em um saque no qual Aquiles tivera um papel fundamental. O pai da moça ofereceu um resgate a Agamêmnon para que libertasse a moça, mas foi negado.

O sacerdote pediu que Apolo mandasse uma peste ao acampamento grego. A peste estava acabando com o exército quando o adivinho Calcas disse que ela acabaria após devolverem a moça. Aquiles foi a favor da devolução, mas Agamêmnon não concordou. Após discussão, Agamêmnon aceitou, mas para insultar Aquiles ou compensar sua perda, pegou Briseida, escrava de Aquiles. O herói achou injusto, afinal os tesouros dos quais Agamêmnon usufruía foram conseguidos com muita luta de sua parte.

Aquiles deixou de lutar e de assistir às reuniões, enquanto os ataques dos troianos intensificavam. Tudo o que Agamêmnon lhe ofereceu, inclusive a devolução de Briseida e muitos tesouros, ele recusou. Após vários ataques de sucesso dos troianos, e Aquiles ainda sem querer lutar, Pátroclo o convenceu a liderar as tropas em seu lugar, vestido com sua armadura e portando suas armas. Pátroclo lutou, mas foi morto por Heitor, irmão de Paris e o melhor guerreiro troiano.

Aquiles ficou transtornado com a morte do amigo. Tétis lhe deu uma nova armadura, feita pelo deus do fogo, Hefestos. Aquiles se reconciliou com Agamêmnon e voltou aos combates, matando muitos troianos antes de enfrentar Heitor. O filho de Príamo até tentou fugir, mas depois de algumas voltas em torno das muralhas de Tróia, finalmente foi morto por Aquiles.

Ainda perturbado com a perda de Pátroclo, Aquiles arrastou o cadáver de Heitor preso à sua carruagem em volta da cidade por vários dias. Zeus resolveu acabar com a história e pediu que Hermes  levasse o rei Príamo até a tenda de Aquiles, que se lembrou do velho pai e diminuiu sua raiva. Aquiles devolveu o cadáver de Heitor e concedeu trégua para que os troianos fizessem um funeral digno.

A Ilíada acaba, mas não é o fim da história de Tróia. O restante foi contado parte na Odisséia e parte em outros textos. Após a morte de Heitor, muitos aliados ajudaram os troianos, como as Amazonas. Aquiles foi morto por uma flecha que o atingiu justamente no calcanhar, lançada por Páris, mas dirigida pelo próprio Apolo. Ainda houve disputa pelo seu corpo, resgatado com grande dificuldade pelos gregos.

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