COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

1ª quinzena de junho de 2010 - Coluna 131
(Próxima coluna: 18/6/2010)

"Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá"...

                    Ops... Começo errado: minha terra (emprestada, pois a original é terra da uva, dizem) tem, ou melhor, tinha araucárias e uma profusão de pássaros lindos de canto mavioso.
                    Às vezes algum sobrevivente alado desse tempo, onde as araucárias ainda permeavam abundantemente esses lados, vem cantar por aqui, pousar nos cantos dos telhados, talvez numa tentativa de fazer uma pesquisa panorâmica das paragens à procura de uma nova árvore para construir seu ninho.  Procura em vão, devo acrescentar, pois, por cá, nos jardins extensos ou modestos (ainda não inauguraram nenhum suspenso, nessa Babilônia) já não cabem árvores: foram substituídas por anexos, complexos, piscinas, jardins de pedras, garagens para enormes carroças modernamente motorizadas.
                    Ao mesmo tempo, muita coisa por aqui continua como dantes: uma visão confusa e difusa, pois, aqui, nada é previsível, nada é sensato. Uma cidade que carrega como estigma um bairro com o nome “31 de março”, será, por certo, nos dias de hoje, um desacerto de intenções de paz e tranqüilidade. O bairro carrega, no próprio nome, um orgulho fora de época, sem propósito, descabido, equivocado desde o nascimento. Mas em terra de nobres araucárias, pinheiro não dá palpite. Sobre esse pobre e tímido pinheiro pousa um pássaro de asas abertas, vôo livre, canto acanhado de quem procura um lar.
                    O nome do bairro... Voltemos a ele: combina com coluna social, frases vazias, TV de baixa qualidade. A cidade reflete seu período de esplendor. Será? Mas ela se moderniza: destrói o passado sem dó, constrói sobre os escombros, sem nenhum remorso, planeja colossos, pirâmides, asfaltos. Grandes (enormes!) postes iluminando o cinza planaltino que substitui os antigos gramados e pastagens seculares onde um dia o povo daqui plantou sua origem e sua história.
                    Segundo planalto, terceiro asfalto. A lua não enxerga mais seu reflexo sobre as verdes campinas. A iluminação artificial bate e não volta, no cinza plúmbeo do asfalto... Asfalto onde, diga-se de passagem, a passagem é paga dentro dos novíssimos modelos da única Cia de transportes urbanos. Cadê a moderna livre concorrência? Caminhando sorrateira sob o subsolo... blá, blá, blá...
                    Nada justifica tanta modernidade provinciana.


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