COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ
Vinicius de Moraes e Frota Moreira, amigos de fé
A presença de Vinicius de Moraes em minha infância e adolescência foi intensa. Principalmente aos sábados, acordava com as músicas do grande compositor tocando em nossa casa e aprendi a reverenciar esse gênio poeta que circundava minha vida.
Foi diplomata, Poeta, dramaturgo, compositor e era chamado por seu biógrafo, José Castello “O Poeta da Paixão”.
Meu pai amava Vinicius de Moraes e o conhecia bem, mas foi meu tio José Arthur da Frota Moreira (já escrevi sobre ele com o pseudônimo de Renato) que foi o grande amigo de Vinicius.
Meu tio exercia a advocacia e então seus caminhos profissionais não eram iguais, embora ambos fossem boêmios e amassem a vida de uma maneira parecida. Eram muito amigos e estudaram juntos. Tão amigos que meu tio morrendo muito cedo, com apenas 40 anos foi homenageado por Vinicius com um soneto que coloco abaixo.
Nunca esquecerei o som de suas músicas, o carisma desse homem que foi amado pelo Brasil inteiro com a força de seu talento e a sensibilidade de suas composições e sonetos.
Há pouco tempo recebi um e-mail de um editor que estava reunindo os sonetos de Vinicius e escrevendo um pequeno comentário sobre cada homenageado e ele me descobrira para que eu falasse um pouco de meu tio.
Comecei então a recordar esse homem tão controverso, deputado e advogado honrando seus títulos, alegre, polêmico com opiniões avançadas para sua época, enfrentando o mundo com um destemor absoluto e até quando o médico lhe anunciou que estava com leucemia ele não recuou, certo que no tempo em que ainda viveria descobririam o remédio salvador, o que não aconteceu. Mas ele viveu esperançoso, tranqüilo e confiante com essa certeza até que a doença tivesse mostrado realmente suas garras e o sofrimento se apoderado dele.
Ao grande Vinicius, o “Poetinha” maravilhoso que empolgava a todos, vibrante, entusiasta da vida e que viveu ali amando o mesmo bairro que eu amava e em que fui criada e o meu querido tio José Arthur da Frota Moreira, que não desanimava nas maiores intempéries e que eu considerava fascinante meu preito de carinho e amor.
Sei que estão em outro espaço, entusiasmando os anjos protetores e eternizando uma amizade profunda e singularmente bela. Ao Poeta ao meu tio a minha saudade e admiração.
10-09-2009
Soneto de Vinicius de Moraes
Dedicado ao amigo José Arthur da Frota Moreira
Soneto na Morte de José Arthur da Frota Moreira
Cantamos ao nascer o mesmo canto
De alegria, de súplica e de horror
E a mulher nos surgiu no mesmo encanto
Na mesma dúvida e na mesma dor.
Criamos toda a sedução, e tanto
Que de nós seduzido, o sedutor
Morreu nas mesmas lágrimas de amor
Ao milagre maior do amor em pranto.
Fui um pouco teu cão e teu mendigo
E tu, como eu, mendigo de outro pão
Sempre guardaste o pão do teu amigo
Meu misterioso irmão, sigo contigo
Há tanto, tanto tempo, mão na mão...
Ouve como chora o coração.
Vinicius de Moraes
Colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71