"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA


Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 9/8
(próxima coluna:23/8)

O Ensino de Língua Portuguesa

A linguagem é a grande diferença humana. Complexa, intensa, cheia de possibilidades, a linguagem estabelece fronteiras, contatos, delimita as relações de poder, é arma nas mãos dos dominadores e também na dos dominados. São muitos os casos em que sobra apenas a linguagem para que um grupo sobreviva, se identifique, se una, mesmo que simbolicamente, contra o opressor. O contrário também se dá: impondo a sua linguagem os dominadores se estabelecem com mais força e precisão.

Historicamente, nos coube a Língua Portuguesa, a língua dos invasores, que agora alguns tentam proteger de novos invasores, com decretos, leis, como se fosse possível controlar o organismo vivo que é a língua.

O ensino da Língua Portuguesa sempre esteve atado à manutenção do poder, primeiro com os Jesuítas, depois com a elite que tinha acesso à escola. A democratização da educação trouxe a necessidade de inserir o maior número de pessoas na escola.

O sistema educacional vigente esquematiza, organiza o conhecimento de forma científica, inclusive o conhecimento da Língua Portuguesa. Como a Língua se trata de algo mutante, cheio de nuances, era preciso amparar-se em algo bem racional, delimitado e de preferência que refletisse o poder vigente. Por isso a escola, durante muito tempo pautou o ensino de Língua Portuguesa apenas gramática, naquilo que a gramática determinava como correto. Com as novas teorias, com um pensamento mais global, o ensino de Língua Portuguesa passou a ser visto numa inteireza: envolve escrita, leitura, comunicação, interação. Percebeu-se que “o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social” (PCN – Língua Portuguesa)

Penso que seja este poder libertador, só existente de forma inteira quando o indivíduo domina a linguagem que possui, o principal motivo para que a escola ensine a Língua Portuguesa. É perceptível, justamente neste ponto a deficiência da educação brasileira. Com o ensino de Língua, muitas vezes distanciado da realidade, com o julgamento prévio do registro lingüístico do aluno, “assim, tudo o que o menino fala (e não corresponde à linguagem culta), é apontado como erro e estigmatizado pelo mestre” (COSCARELLI, 2006).

Para mudar esta situação de exclusão, para inserir o aluno nas mais diversas possibilidades de uso da linguagem, para que ele diferencie e use sua linguagem escrita e falada, da forma mais correta, contextualizada, com segurança, é que se justifica o ensino de Língua Portuguesa.

Equívocos no ensino fizeram com que a Língua Portuguesa fosse a matéria ‘terror' de muitos. Alterar este quadro, fazer com que os alunos percebam a dimensão humana da linguagem, o tamanho das possibilidades e responsabilidades que o domínio da escrita e da fala acarreta, além de conceder o poder da linguagem a quem não o tem, são motivos que justificam o ensino da Língua Portuguesa nas escolas.

Referências

Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro02.pdf > Acesso em 16 mai. 2006

COSCARELLI , Carla Viana. O ensino de Língua Portuguesa nas escolas. Disponível em: <http://www.udemo.org.br/JornalPP_02_10EnsinoLinguaPortuguesa.htm > Acesso em 10 jul. 2006


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