Mito em contexto - Coluna 47
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As aventuras de Zeus-touro com Io e Europa
Zeus ficou encantado com a beleza da princesa fenícia Europa e se transformou em um touro para raptá-la. O deus se utilizava das para não despertar a desconfiança da esposa Hera. Como touro, Zeus se aproximou do lugar onde a princesa estava com as amigas e deitou a seus pés. Europa acariciou o animal e ficou tão confiante que sentou no seu dorso. Zeus-touro levantou e se lançou com ela no mar. Assustada, Europa mal se equilibrava, segurando os chifres do touro, que logo entrou nas ondas e se afastou da terra.
Europa e Zeus se uniram quando chegaram à ilha de Creta, sob a sombra dos plátanos, que não perderam mais as suas folhas em homenagem à união dos dois. Tiveram os filhos Sarpédon, Radamanto e Minos. Europa depois casou com o rei de Creta, Astérion, que adotou os filhos de Zeus. Zeus transformou o touro em constelação.
Minos governou Creta e teve sua história relacionada com o labirinto. Antes de reinar, disputou o trono com os irmãos, alegando que lhe pertencia por vontade dos deuses e provaria isso. Solicitou ao deus Poseidon que fizesse um touro sair do mar, prometendo sacrificar o animal em seguida. Quando estava no poder, Minos sacrificou a Poseidon outro animal. O deus pediu a Afrodite que despertasse na esposa de Minos uma paixão pelo touro. Pasífae pediu ajuda ao arquiteto Dédalo, que fez uma novilha de bronze para que ela consumasse seu desejo. Da união nasceu o Minotauro, metade homem, metade touro.
Os irmãos de Europa, que a procuraram e nunca acharam, fundaram colônias nos locais onde se estabeleceram. Cadmo consultou o Oráculo e soube que deveria fundar uma cidade. Fundou Tebas, local onde acontece a história do Rei Édipo, ancestral de Cadmo.
Outras colônias foram fundadas pelos irmãos de Europa e aparecem nos mitos de fundações das colônias fenícias, como a de Fênix. Essas lendas contam de forma poética sobre a entrada das civilizações da Ásia Ocidental no mar Egeu. Certamente a região da Europa lembra o nome da princesa, e a imagem de Zeus-touro simboliza a natureza do deus dos cretenses, pois o touro tinha grande importância na vida religiosa e cotidiana dos Egeus. O touro também é símbolo dos deuses celestes em várias religiões indo-européias, por conta da fecundidade, força e vigor, como o touro Indra na Índia. O touro simbolizava Mitra no culto iraniano. No Egito, Osíris foi representado como touro.
Há outra aventura de Zeus com relação ao touro, quando o deus se apaixonou pela ninfa Io. Para se esconder de Hera, Zeus cobriu a Terra com nuvens, mas a esposa suspeitou e logo as dispersou. Zeus transformou Io em uma novilha e se encontrou com ela na forma de touro. Quando encontrado junto ao animal, jurou que nunca o tinha visto. Hera pediu o animal de presente e Zeus, sem saída, aceitou seu pedido.
Hera fez de tudo para separar o animal do marido. Colocou a novilha em um bosque sob a vigilância de Argos, o cão de cem olhos. Observando o sofrimento da ninfa, Zeus mandou Hermes libertá-la. Ele tocou uma flauta e fez Argos adormecer. Em seguida, Hermes matou o vigilante e levou Io.
De tanto tentar escapar das torturas de Hera, Io vagou pelo mundo. Suas andanças constam nos nomes de diversos locais: o mar que ela atravessou nadando foi chamado de mar Iônico ou Jônico. O estreito de Bósforo, que significa “travessia da vaca”, também lembra seu tormento. Depois que Zeus prometeu não mais procurar a ninfa, Hera devolveu sua forma humana, mas ela não poderia voltar à Grécia. Io reinou no Egito com o nome de Ísis. Os dois pequenos chifres de ouro da sua coroa foram lembranças da sua transformação. Io teve um filho de Zeus chamado Épafo, considerado pelos gregos encarnação de Ápis, o touro divino dos egípcios. Épafo casou com a filha do deus-rio Nilo e teve muitos descendentes.
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