Mito em contexto - Coluna 48
(Próxima:20/6)
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Durante muito tempo os mitos foram o principal instrumento de compreensão do mundo. A sociedade moderna se afastou dos seus ensinamentos, o que não significa que tenhamos encontrado o sentido da existência ou que a vida na Terra pareça menos ameaçadora. Mas o que é atemporal resiste, e as narrativas míticas ainda fazem sentido para muitos, sejam pesquisadores ou simples curiosos; pessoas que acreditam em várias formas de se investigar o mundo. Pessoas como Leila Míccolis, a quem agradeço o convite há dois anos para escrever sobre "mito em contexto" - S.F.
Ártemis e Hécate, divindades lunares
Eos, a Aurora, abria a porta do Céu para o carro de Hélio, o Sol, que enchia o mundo de luz. Selene, a Lua, completava a tríade das antigas divindades siderais. Selene começava seu trabalho num carro de prata, ao entardecer, quando Hélio terminava sua viagem. Selene não teve culto especial, somente quando se identificou com Ártemis, cujo culto foi mais elaborado. Depois, Ártemis suplantou Selene, como Apolo a Hélio.
A Ártemis grega resulta do sincretismo da Ártemis oriental com a ocidental. Após a ocupação da Grécia, Creta e parte da Ásia Menor pelos helenos, Ártemis de Éfeso, a deusa asiática da fecundidade, acabou transformada em virgem caçadora. Sua mãe ficou grávida depois de uma aventura com Zeus e foi perseguida pela ciumenta esposa dele. Recebida na ilha de Delos, Leto deu à luz Ártemis, que em seguida ajudou no nascimento do irmão gêmeo Apolo. Assustada com o sofrimento da mãe durante o parto, quis ficar sempre virgem. As mulheres do seu cortejo deviam permanecer virgens como ela. Mas isso não impediu sua associação com a fecundidade feminina .
Como deusa da caça e protetora dos animais, castigava quem maltratava os filhotes ou fêmeas em gestação. Assim, também era protetora da juventude em todas as formas de vida. Protegeu Ifigênia do sacrifício a ser realizado por Agamêmnon quando este se preparava para a Guerra de Tróia. Em uma caçada antes da viagem, Agamêmnon matou uma corça consagrada à Ártemis, ou teria dito que nem ela o faria melhor. Ártemis impediu que os ventos soprassem e a frota parou em Áulis. O adivinho Calcas revelou que a deusa exigia o sacrifício da filha de Agamêmnon para cessar a calmaria. No momento de ser sacrificada, Ártemis substituiu Ifigênia por uma corça e a transportou para Táuris, onde ela se tornou sacerdotisa da deusa.
Ártemis vivia percorrendo florestas, montanhas e lagos, no meio dos animais e seguida pelas ninfas. Personificava a independência do espírito feminino, por isso era a protetora das Amazonas, mulheres igualmente guerreiras, caçadoras e independentes dos homens. Ao identificar-se com a lua, Ártemis assumiu algumas das feições de Hécate e passou a ser invocada no campo da magia.
Descendente dos Titãs, Hécate não tem mito próprio. Teve características diferentes dos outros deuses e não estava no Olimpo com eles. Quando no poder, foi Zeus quem lhe atribuiu prestígio, por sua ajuda na Gigantomaquia.
A princípio Hécate era uma deusa benéfica que concedia favores como prosperidade material e vitória nas batalhas. Estava ligada aos ritos de fertilidade, guiava os órficos no caminho da purificação, por isso posteriormente foi também a deusa dos caminhos e das encruzilhadas. Aos poucos foi adquirindo atributos diferentes, presidindo à magia e aos encantamentos e associada ao mundo das sombras.
Invocada por feiticeiros e bruxas, Hécate era representada com tochas nas mãos ou em forma de animais como loba e cadela. Seu poder se manifestava à luz da lua. Pela manifestação noturna, simbolizava o inconsciente, onde estão os monstros, espectros e fantasmas.
As representações que sobreviveram até nós foram de Ártemis como uma bela jovem em trajes de caça e acompanhada de animais. Embora fosse cultuada na Grécia, o santuário mais importante estava em Éfeso, onde o templo dedicado a ela nos chegou como uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. De todos os poderes contraditórios, Hécate ficou mais associada à magia e ao lado obscuro da lua, por isso mesmo, foi atribuído a ela o arquétipo de guardiã do inconsciente.
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