Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://www.geocities.com/rogelsamuel

Nº 134 - 2 ª quinzena de junho 2008
(próxima coluna: 25/06)

O 1º capítulo deste importante romance mereceu matéria de página inteira no Jornal "Amazonas em Tempo", em 13/12/07.
Clique aqui para ler a reportagem na íntegra

FOTOS DE ALGUNS PERSONAGENS (FILETO PIRES FERREIRA, EDUARDO RIBEIRO, W. SCHOLZ, ETC.) E LUGARES DO "TEATRO AMAZONAS" EM: http://www.flickr. com/photos/ 12439475@ N05/sets/ 72157603842512154/

"TEATRO AMAZONAS"
(Romance inédito)


           14. O DIRIGENTE ESCLARECIDO

        – Infâmia! – gritava Eduardo Ribeiro. Calúnia! – berrava, enlouquecido de ódio, o ex-governador.
        Na escadaria de sua casa discursava para um grupo de 5 populares como se falasse para a multidão.
        Embora tivesse 1 metro e 57 centímetros de altura, ele crescia, quando discursava.
        – No meu primeiro Governo fui aclamado em abril de 1891, gritou ele, depois do ato de violência de minha demissão promovida pelo Senador Joaquim Sarmento.
        (Aplausos e vivas).
        – Entre os que assinaram a minha aclamação estão Jonathas Pedrosa, Leonardo Malcher, Leandro Antony, Lima Bacury, Moreira Cesar, Antonio Bittencourt, Deocleciano Bacellar, Paulo Ponce de Leon, Francisco de Palma Lima e mais 363 nomes.
        – Pessoas da mais alta qualidade! – acrescentou.
        Eduardo Ribeiro estava possesso. Discursava aos gritos. O pequeno grupo aplaudia.
– Passei o governo para o Barão do Juruá, depois deste meu primeiro e curto governo.
– Organizei o Estado – continuou – fiz a Primeira Constituição do Estado, comecei a reforma da Instrução Pública, reformei a magistratura. Nunca fui acusado de nada!
(Palmas. “Muito bem!”)
– Saí triunfante de Manaus, e não corrido como um cão, como o Thaumaturgo. Depois assumi a minha cátedra de professor na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, na Praia Vermelha.
E tomando fôlego:
– Imorais! – bramia ele, exibindo uma folha de jornal. Preparam um golpe contra mim!
– O corrupto, gritou, começou seu governo solicitando um empréstimo de 14:000$ para sua própria empresa predial! – O corrupto!
Eduardo começou a tremer.
Não continuou.
Seu médico o levou para o interior da casa. Foi o início de sua decadência, doença e morte.


– José Paranaguá foi o melhor governador do Amazonas, disse Lima Silva no meio do jantar que oferecia no palacete Scholz.
Presentes estavam o juiz Regalado Batista; o ex-deputado geral às Côrtes do Império Adriano Pimentel; o dr. Aprígio Martins de Menezes, homem culto, médico, poeta e professor; o engenheiro João Carlos Antony e Lima Silva.
– Sim, disse Regalado Batista. José Lustosa da Cunha Paranaguá governou a Província do Amazonas de março de 1882 a fevereiro de 1884.
– Por quê o melhor? – insistiu Scholz.
– Pelos empreendimentos científicos que levou a efeito, - respondeu o juiz Batista – pela solução dos problemas que reclamavam os setores do comércio, da indústria e da navegação. Paranaguá era moço, tinha 26 anos de idade, era culto, apaixonado pelas artes, ciências e letras, com uma educação bem cuidada que recebera de ilustres ancestrais. Era filho do Visconde de Paranaguá, neto de Montserrat, magistrado do Império.
– José Paranaguá em dois anos levou a efeito uma gestão com as mais notáveis realizações.
– Explique melhor, fez Scholz, dando uma baforada no charuto e contemplando a linha do horizonte.
Disse o juiz:
– Paranaguá reformou a instrução pública, primária e secundária; lançou a pedra fundamental do imponente Teatro Amazonas; criou o Montepio Provincial e Municipal; fundou o Museu Botânico Amazonense, convidando o sábio Barbosa Rodrigues para organizá-lo e dirigi-lo; firmou contratos para estabelecer novas linhas de navegação, inclusive com a Europa; organizou os serviços de abastecimento d'água e alimentar da capital; deu inicio, de forma organizada, aos serviços de estatística; incentivou o movimento de abolição da escravatura; estabeleceu serviços de exploração de vários rios; patrocinou expedições científicas ao interior; promoveu o incremento da pecuária, abriu campos; restabeleceu o Instituto de Educandos Artífices, que se encontrava fechado; aumentou as linhas de navegação para os altos rios, construiu igrejas, trapiches, cais, rampas, mercados; processou legitimações e demarcações do domínio particular; desenvolveu propaganda intensa, na Europa, dos produtos amazônicos; fundou, em Manaus, a Biblioteca Pública Provincial. Sua gestão foi um marco na História do Amazonas. Critério, honestidade e tino de um jovem. Deixou o Governo com uma reserva de quase mil contos de réis, nos cofres provinciais, tendo empregado, só no último ano de sua gestão, mais de quinhentos contos de réis em obras. Assistiu ao comércio, desenvolveu as indústrias, fomentou a agricultura e a pecuária.
O deputado Adriano Pimentel concordou:
– O comércio, as artes, as indústrias, as letras e as ciências muito lhe devem nesta parte do Império.
– Quem tiver estudado, disse Martins de Menezes, as grandezas dessa região chegará ao nome de José Paranaguá. Ele se destaca a nossos olhos, dentre as administrações que se tem sucedido nesta Província.
– Ele, disse o engenheiro João Carlos Antony – levantou a classe dos empregados públicos e dos professores. Mandou que a Província fosse representada na exposição antropológica brasileira.
– A honra e o dever, a justiça e a inteligência guiaram Paranaguá, disse Regalado Batista.
– Paranaguá mandou vir, disse Lima Silva, para a Biblioteca Pública que criara, diretamente da Europa, dos editores parisienses, obras valiosíssimas, importantes coleções, selecionadas pelo Barão de Ramiz Galvão que dirigia a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
– Mais de mil volumes foram remetidos de Paris para Manaus, aonde chegaram pelo vapor “Paraense”. Custaram sete contos de réis. Paranaguá recomendou a organização de uma seção constituída exclusivamente da bibliografia amazônica, solicitando a Franklin Dória, na capital do Império, a indicação das obras de possível aquisição.

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