Mito em contexto - Coluna 49
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Asclépio e o Santuário de Epidauro
Quando surgiram teorias para explicar o funcionamento do corpo humano e as doenças na Grécia Antiga, Hipócrates se tornou o médico mais famoso. Mas a medicina grega mais antiga era baseada na mitologia e na religião, e associava as curas a diversas divindades. Havia vários santuários dedicados às divindades médicas, onde os devotos se encaminhavam à procura de ajuda divina para problemas de saúde. O mais popular centro de cura era o santuário de Asclépio.
Asclépio era considerado filho de Apolo com a mortal Corônis. A jovem traiu Apolo durante a gravidez e foi morta por uma flecha de Ártemis, a pedido do deus. O filho foi retirado do ventre da mãe e levado ao centauro Quíron, o grande educador dos heróis e médico magnífico. Com o melhor mestre, Asclépio se tornou tão capaz na arte de curar que passou a ressuscitar os mortos. Hades se queixou com Zeus, pois seu reino ficaria vazio. Por tentar alterar a ordem natural do mundo, Zeus fulminou Asclépio com seu raio, mas em reconhecimentos ao seu trabalho, consagrou-o entre as divindades.
Os santuários espalhados pela Grécia eram muitos prósperos, recebiam muitos visitantes durante o ano, e alguns tinham suas especialidades. Olímpia abrigava disputas atléticas e Delfos era famoso pelo Oráculo de Apolo. O santuário de Epidauro destinava-se a realizar os rituais de cura de Asclépio. Acreditava-se que o próprio deus habitava no templo ou morava nele durante um período do ano. O santuário reunia edificações como monumentos, bibliotecas e teatros. O teatro de Epidauro, construído no século IV a.C., é famoso até hoje como o mais bem conservado da antigüidade e também devido à famosa acústica para aquela época.
O devoto que chegava ao santuário oferecia um sacrifício ao deus. Depois de se purificar com banhos, adormecia e aguardava a cura chegar pelos sonhos, processo chamado de incubação. O deus aparecia no sonho e tratava pessoalmente o doente, ou sugeria um tratamento, como banho, plantas medicinais, entre outros anunciados pelos sacerdotes que ajudavam na interpretação dos sonhos. Asclépio recebia importante ajuda das filhas sempre jovens Panacéia, a cura, e Higiia, a saúde. Panacéia para nós tem o sentido de “remédio para todos os males”. De Higiia deriva a palavra higiene, que abrange as práticas para uma boa saúde.
No santuário do deus da nooterapia (cura pela mente) primeiro se curava a mente. Havia cura quando havia metánoia, que é a transformação de sentimentos. Como as doenças eram praticamente psicossomáticas, as causas delas eram principalmente mentais, por isso o método terapêutico era espiritual. Durante o processo de cura havia visitas a lugares como o Odéon, teatro onde se ouvia música, poesia e dança, atividades que tinham efeito terapêutico imediato sobre o corpo e a alma. Havia ainda o Estádio para as competições e o Ginásio para exercícios físicos. O santuário oferecia todo um conjunto espiritual e cultural que visava à catarse.
Também fazia parte do santuário um labirinto misterioso que guardava a serpente, animal com presença obrigatória nos santuários, entre outros motivos, pelo poder de renovação da vida, conferido pela sua troca periódica da pele. Conta a lenda que uma serpente apareceu no caminho de Asclépio e se enrolou na vara que ele trazia. Depois que matou o animal, apareceu outra serpente, que trazia na boca uma planta com a qual ressuscitou a morta. O simbolismo desse acontecimento foi a revelação das virtudes medicinais para Asclépio, e a origem do bastão emblemático da Medicina. Embora algumas entidades tenham adotado o caduceu de Hermes, com duas serpentes enlaçadas em um bastão com duas asas, o símbolo da medicina desde Asclépio é composto de um bastão com uma serpente enlaçada, e era assim que constava nas representações que fizeram dele.
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