COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Conselheira Municipal da Cultura.

2ª quinzena de outubro - Coluna 77
(Próxima coluna: 3/11)

Nem o “gongo” pode me salvar

Muitos devem se lembrar da expressão “salvo pelo gongo”, utilizado para ilustrar situações onde se escapa do pior na última hora.
Eu até tentei ouvir um, arrumar um emprestado, pra ver se batendo naquela droga, eu conseguiria ser salva.
Salva de quê? De mim mesma, da vida, do cotidiano, do desamor, enfim: salva de coisas, situações e, principalmente, de pessoas. E dentre essas pessoas, devo confessar, me coloco no centro, na berlinda mesmo, pois cheguei à conclusão de que sou um verdadeiro “pé no saco de um mamute alado”! Triste, né ? Mas eu sou chata mesmo. Sou crítica, tenho a língua afiada (a ponta dos dedos também) e, vez por outra, consigo me meter sozinha em enrascadas infundadas, criadas por algum departamento preconceituoso e generalizador do meu cérebro que insiste em permanecer burro, xucro, mesquinho, egoísta e imprudentemente me coloca em verdadeiras “frias”.
Aí quando olho à minha volta e vejo as verdadeiras “cagadas”, entro em depressão.
“Quando se pensa que o mundo todo está errado e só você está certo, é hora de rever a situação como um todo, pois o único errado é você mesmo” – já me dizia meu pai, quando segurava minhas crises bravas de indignação contra o mundo, achando que todos à minha volta estavam errados e a madame cabeça vazia, vítima, aqui, achando que somente ela estava coberta de razão. Sentia-me incompreendida, diminuída, sem importância, desamada e mal interpretada. Qual nada! Estava certo meu “ paizinho ”, de quem sinto tanta saudade e até me faria bem uma conversa com ele agora.
Estou tão “ down no meu íntimo hight society ” que nestas últimas noites tenho até medo de dormir: sonho apenas com pessoas que já morreram querendo me abraçar, dizendo que estão com saudades e aí... epa ! Acordo rapidinho, pois não é hora ainda! Não posso deixar meu filho ao desalento, desabrigado das intempéries emocionais da vida, pois já não lhe resta ninguém: sou sua única família. Sou pai e mãe, cozinheira, saco de pancadas, auxiliar de compras, mantenedora, e, como toda mãe de adolescente moderno, tratada aos gritos, desatinos, bateções de porta e tantas coisas chatas que nos fazem perder o foco e a calma no transcorrer diário, que às vezes chego a pegar a mala e colocar algumas roupas dentro. Sem a mínima organização, claro, pois fico cega de nervosismo. Aí me sento, tenho uma crise de choro e penso: “pra onde eu vou?” e “com quê dinheiro?”
Volto à estaca zero, ou, mais precisamente falando, à estaca menos 100, 120, enfim, qualquer número abaixo do nada, qualquer coisa abaixo de tudo.
Eu sei que é duro adolescer, pois me lembro bem dessa fase. Mas não me sinto apta a segurar as pontas dele, como meu pai segurava as minhas . Além do quê não tenho mais válvula de escape. Não tenho mais quem me ouça, quem sequer me veja.
Faz dois meses que não tinjo os cabelos, que já apresentam raízes esbranquiçadas misturadas ao castanho escuro natural. Acrescente-se ao quadro, um castanho avermelhado no restante: ridículo. Porém, ninguém disse nada, ninguém notou, ninguém viu, pois ninguém me olhou!
Gente, não ser vista, não ser notada, como se eu fosse uma parede, uma fruteira vazia? Assim já é demais!
Fruteira vazia. Taí : gostei da analogia. Alguém me empresta um aí pra eu dar um pulinho na quitanda da vida e comprar umas frutas frescas? Preciso de alento!


Arquivo das colunas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76

« Voltar