COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 85 - 21/4/2010
(próxima: 6/5/2010)

          

CHEGADA EM BRASÍLIA
Homenagem aos 50 anos de Brasília

        Quando cheguei em Brasília era  apenas uma menina. Deixava minhas raízes no Rio de Janeiro que tinha sido minha vida até ali. E chegava sem ao menos saber o que me esperava no estranho ambiente em que ia viver.
        Fazendo o trajeto de carro do Rio até aqui, senti agonia subindo a serra de Petrópolis e a nostalgia daquela viagem enchia meu coração de tristeza e meus olhos de lágrimas.
        Não esperava é certo encontrar já na jovem capital todo o progresso com o qual estava acostumada. Mas ao chegar e deparando com a tranqüila beleza de Brasília pude sentir uma empatia grande pelo que estava vendo.
        Claro, meu coração doía ao não avistar as ruas barulhentas, as avenidas movimentadas, o jeito especial de meus conterrâneos, a minha praia querida cujas águas verdes  todos os dias contemplava como doce calmante e ao não sentir aquela doce intimidade que minha terra pelos anos vividos ,amor cultivado e intenso fascínio me inspirava.
         Achei que jamais poderia viver em outro lugar que não fosse lá. E com o passar do tempo, morando na nova capital pude entender que embora não encontrasse aquela sedução, tão conhecida para mim, Brasília encerrava uma nova vida para seus habitantes talvez com promessas ocultas de esperanças renovadas.
         Pude absorver que naqueles anos em que a simplicidade ainda imperava na capital  o povo se unia na expectativa de novos caminhos ainda não conturbados pelo poder e pela desenfreada luta  entre políticos e empresários famosos.
         Sentia-me estranha andando apenas de carro pelas ruas de Brasília e observando uma terra sem esquinas. Recordava-me então do Rio, em que caminhar é um dos principais lenitivos e as esquinas são famosas pelo movimento habitual.
         Comecei a sentir o quanto especial apesar de tudo era a capital da república e aprendi a amá-la. De um amor diferente, é claro, em que não incluía recordações de infância e início da adolescência,  passeios maravilhosos vividos em épocas áureas da vida ou a poesia de instantes inesquecíveis.
         Havia, no entanto, ainda, a fé nas coisas mais simples, o testemunho de uma luta insana de um povo que havia se deslocado de todas as regiões do Brasil e ali fizeram o reduto do combate glorioso em prol de uma vida diferente com novas perspectivas.
         Olhando o horizonte da jovem terra que se impunha bela, com aquele céu maravilhoso, conseguimos divisar com rapidez o significado da capital e o que podia encerrar de profundos sonhos e realizações para a maioria dos cidadãos que chegavam aqui.
         Ficava encantada com a diversidade de sotaques, hábitos e modo de entender a vida.
         E no caminhar de todos os dias para um novo progresso que se divisava a magia era justamente a puerilidade de costumes que íamos adquirindo um dos outros de forma intensa e peculiar.
         Ao contemplar a simplicidade sofisticada embora já habitada pelos políticos e empresários, mas ainda não totalmente formada em suas tradições profundas, podíamos sentir a vida que começando ali esparzia feixes de sabedoria. Ao mesmo tempo era uma fonte de ensinamentos diários e maravilhosos que conduzem à cultura  enriquecedora.
         Aprendi muito em Brasília, observando e estudando culturas diferentes, admirando cada uma das riquezas intrínsecas de todas as partes do país, vendo encantada a luta dos que tinham chegado quando a cidade nem se delineava plenamente e vibrando com as histórias narradas tão simples e docemente.
         De alguns anos para cá comecei a entender que o progresso demasiado leva à ambição, desespero e ao egoísmo desmedido. Brasília já não é mais aquele centro que um dia me encantou. E isso porque a luta insana de poder e vaidade progressivamente são as principais metas de muitos dirigentes, políticos e empresários empenhados em uma rivalidade diferente e menos generosa.
         No entanto, com respeito e admiração aí vai o meu preito de amor.

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