Prato (e)feito

— O almoço tá na mesa!
— Tem bicho morto?
— Tem peito de frango na chapa, que é light, sem calorias, e não engorda!
— Quem não engorda mais é o frango, que tá morto!
— Que bobagem! Precisamos de proteína pra viver!
— Também preciso do meu cachorro pra viver, e nem por isso mato o coitado e asso no forno com uma maçã na boca! (*)
— Que besteira, menina. Anda logo e vem comer.
— Vou. Mas tira a galinha de cima da mesa, que hoje não tô com espírito pra velório!
— Velório de quem, menina?
— Da galinha, oras! Ou frango, ou seja lá que coisa putrefata é essa nesse prato enfeitado, disfarçando a desgraça do pobre do bicho. Nem adianta essa encenação pra foto de revista culinária, que não como essa coisa!
Chamem os urubus e as carpideiras da redondeza, que hoje tem iguaria fina lá em casa pra quem gosta de cadáver!

(*) Cabe um à parte: afinal, o que quer dizer a maçã que colocam na boca dos suínos pra eles fazerem pose pra foto, heim? Será que o fotógrafo dessa “iguaria”, ou a cozinheira responsável, tem algum tesão pela fruta do pecado? Já sei: promíscuos frustrados? – fim do à parte, tal como guarnição opcional do prato principal!

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