Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 52
(Próxima: 20/8)

Deméter e os Mistérios de Elêusis

Várias cerimônias religiosas em que se cultuavam os deuses eram realizadas na Grécia Antiga. Os Mistérios de Elêusis estavam ente as mais importantes cerimônias e cultuavam Perséfone e Deméter, respectivamente Prosérpina e Ceres para os romanos. Deméter era filha dos titãs Crono e Réia. Divindade da terra cultivada, diferente de Gaia, elemento cosmogônico, Deméter era a mãe do grão, a deusa da agricultura, principalmente do trigo, considerado o mais precioso dos cereais.

Deméter teve a filha Perséfone com Zeus. A jovem era conhecida como Core, a donzela. Core crescia tranqüila entre as ninfas e em companhia de Ártemis e Atena , quando foi raptada pelo tio Hades, com o auxílio do próprio Zeus. Enquanto colhia flores, Zeus colocou um narciso na beira de um abismo para atraí-la. Ao se aproximar da flor, Hades apareceu e a levou para o mundo ctônio. Os sofrimentos pelos quais Deméter passou após o sumiço da filha foram relatados no Hino Homérico a Deméter, composto no final do século VII a.C.

Deméter procurou a filha no mundo inteiro durante nove dias e nove noites, sem comer, beber ou se banhar. No décimo dia encontrou Hécate, associada ao mundo das sombras. A deusa ouviu o grito, mas não reconheceu o raptor, escondido nas sombras da noite. Hélio, o Sol que tudo via, contou a verdade. Irritada com Hades e Zeus, a deusa decidiu não retornar ao Olimpo e permaneceu na terra, abdicando de suas funções.

Com a aparência de uma velha, Deméter foi para Elêusis. Contou para as filhas do rei Céleo que escapara das mãos de piratas e foi convidada a cuidar de Demofonte, filho recém-nascido da rainha Metanira. Mas a deusa não dava leite ao menino, ela o alimentava com ambrósia, o néctar dos deuses, e o passava no fogo durante a noite. Um dia Metanira descobriu o filho entre as chamas e gritou desesperada. A deusa interrompeu a atividade e confessou que se tratava de um rito iniciático para torná-lo imortal.

Antes de deixar o palácio, Deméter solicitou que erguessem um templo, onde ensinaria seus ritos. A deusa ensinou a Triptólemo, irmão mais velho de Demofonte, a arte de semear e colher o trigo, e os segredos do preparo do pão. Construído o santuário, a deusa se recolheu no seu interior, com saudades da filha. Uma seca terrível se abateu sobre a Terra e Zeus mandou mensageiros em vão, ela não permitiria que a vegetação crescesse enquanto não entregassem Perséfone. Zeus pediu que Hades devolvesse Perséfone. Ele atendeu ao irmão, mas ela comeu romã e, uma vez que quem no Hades se alimentasse estava impedido de deixar a outra vida, Perséfone estava eternamente obrigada a retornar: ela passaria uns meses com o marido, outros meses com a mãe.

Após reencontrar a filha, Deméter retornou ao Olimpo e a terra se cobriu de verde. No simbolismo do mito, Perséfone representa o grão semeado, que se desenvolve embaixo da terra e aparece na primavera sob a forma de novos frutos. A significação profunda do mito das deusas somente era revelada aos Iniciados nos Mistérios de Elêusis, em que os adeptos se preparavam para a morte, com ensinamentos de como suportar a passagem de um mundo para outro.

Além dos Mistérios de Elêusis havia outras festas em honra a Deméter, como as Eleusínias. As disputas atléticas realizadas na ocasião eram consideradas como os mais antigos jogos da Grécia. Os atletas recebiam como prêmio medidas de trigo sagrado colhido nas planícies perto de Elêusis, onde pela primeira vez Triptólemo plantou a semente sagrada.

Em um trecho do “Hino a Deméter”, a promessa de felicidade para os iniciados e o castigo para os que ignoram os ritos sagrados: “ Feliz aquele que possui, entre os homens da terra, a visão destes Mistérios. Ao contrário, aquele que não foi iniciado e aquele que não participou dos santos ritos não terão, após a morte, nas trevas úmidas, a mesma felicidade do iniciado.”


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