Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 53
(Próxima: 5/9)


Zeus e as lutas pelo domínio do Universo

Zeus era o mais importante dos deuses gregos. Ele mantinha a ordem e a justiça do mundo e dominava o Céu e fenômenos atmosféricos como chuvas, relâmpagos e raios. A ascensão de Zeus ao poder foi conquistada pelas vitórias em diversas lutas. A primeira delas foi contra seu pai Crono, que devorava os filhos assim que nasciam para se livrar da maldição de Gaia e evitar que um dos filhos tomasse seu trono, como ele havia feito com o pai Urano.

Quando o terceiro filho estava para nascer, Réia, auxiliada por Gaia, escapou da vigilância de Crono e deu à luz Zeus. Deixou-o sob os cuidados das ninfas em Creta e, para enganar o marido, entregou pedra envolta em panos, que Crono prontamente engoliu. Ao perceber o engano, procurou o filho por todos os lugares. Zeus estava bem guardado pelas ninfas e Curetes (gênios da natureza), que dançavam ao redor de seu berço, batendo lanças, escudos e soltando gritos para abafar seu choro.

Quando adulto, Zeus procurou Métis, a Prudência, e recebeu uma poção mágica com a qual fez Crono vomitar os filhos engolidos. Zeus e os irmãos lutaram anos contra o pai na titanomaquia. Para ajudá-los, libertou os Ciclopes, gigantes de um olho só, e os Hecatonquiros, gigantes de cem braços, que seu pai mantivera presos no Tártaro. Venceram Crono, que foi condenado a viver na terra. Na divisão do universo, Poseidon herdou o reino do mar; Hades o reino subterrâneo; e Zeus ficou com o Céu e domínio do mundo. Os Ciclopes deram a Zeus o raio e o trovão; para Hades, o capacete que o tornava invisível; para Poseidon, o tridente que abalava o céu e o mar.

Gaia ficou descontente com os olímpicos que aprisionaram seus filhos, os Titãs, no Tártaro. Enviou os terríveis Gigantes para vingá-los. Gaia os criou a partir do sangue de Urano caído na terra ao ser castrado por Crono. Eram seres fortíssimos, com serpentes no lugar das pernas. Só podiam ser vencidos por um deus e um mortal ao mesmo tempo, por isso o principal aliado de Zeus foi Hércules, ainda não imortalizado. Os Gigantes alvejavam o Olimpo com árvores e rochedos. Ajudado pelos irmãos e filhos, Zeus os enfrentou e venceu.

Inconformada, Gaia tentou novamente. Uniu-se ao Tártaro e gerou Tifão, monstro alado com cem cabeças de serpente e olhos que expeliam fogo. Sua cabeça tocava as estrelas, e quando abria os braços, uma das mãos tocava o Oriente e a outra o Ocidente. No lugar dos dedos, cem cabeças de dragões. Quando os deuses viram Tifão se encaminhar para o Olimpo, fugiram para o Egito, cada um tomado uma forma animal ao se esconder no deserto. Zeus e a filha Atena resistiram ao monstro.

Com um raio, Zeus atingiu Tifão, que fugiu para o monte Cásio, onde se travou uma luta corpo a corpo. Tifão desarmou Zeus, cortou os tendões dos braços e pés e o levou sobre os ombros para a Cilícia, onde o aprisionou numa gruta. Escondeu os tendões numa pele de urso sob a guarda do dragão Delfine. O astuto deus Hermes e , com os gritos que causavam pânico, assustaram o dragão e pegaram os tendões de volta. Quando recuperou as forças, Zeus escalou o Céu num carro puxado por cavalos alados e recomeçou a luta. Tifão foi para o monte Nisa, na Trácia. Lançou montanhas contra Zeus, que as atirava de volta com seus raios. Depois fugiu para a Sicília, mas Zeus o esmagou, lançando sobre ele o monte Etna, que até hoje derrama suas chamas.

Após as lutas, Zeus libertou o pai, tornando-o rei da Ilha dos Bem-Aventurados, onde os heróis que chegavam não conheciam a morte. O domínio de Zeus foi consolidado também pelos casamentos e ligações amorosas com deusas e mortais. Muitas de suas conquistas eram antigas deusas, adoradas por povos vencidos pelos gregos. Zeus teve muitos filhos, entre deuses, heróis e mortais, à revelia de Hera, sua legítima e ciumenta esposa.

As lutas de Zeus simbolizam a vitória de novos deuses sobre as antigas divindades dos povos pré-helênicos. Representam também as lutas contra as forças primordiais cegas e violentas, e a reorganização mítica do Universo. Zeus não era um deus criador, mas um conquistador, e suas vitórias o fizeram o chefe dos deuses e dos homens, e senhor absoluto do Universo.

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