JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, que acaba de obter o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL (clique no título da obra para ler a fortuna crítica).
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Coluna de 1/6
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Direto ao assunto

                             Chacina dos facínoras, não!

           Tudo indica que o Ministério Público Estadual de São Paulo só exigiu da polícia paulista a lista de todos os suspeitos mortos em enfrentamentos durante e após a ofensiva do Primeiro Comando da Capital (PCC) por pressão das entidades de direitos humanos com as quais se encontrou. A população paulistana lamenta o contraste existente entre o empenho de tais entidades para defender marginais e sua absoluta indiferença quanto à sorte dos agentes da lei e dos cidadãos inocentes executados por tais delinqüentes. Mas isso não quer dizer que a opinião pública aceite passivamente as versões oficiais a respeito das vítimas dos enfrentamentos entre criminosos e policiais, mormente quando estas não vêm acompanhadas de documentação completa e confiável. Transparência também é segurança, é ou não é?
            Seja qual for, portanto, a motivação para a exigência do MPE de que os responsáveis pela segurança pública no Estado de São Paulo fornecessem em 72 horas a lista dos mortos e as cópias de todos os boletins de ocorrência e laudos assinados por peritos do Instituto Médico Legal (IML), ela atende, sim, ao interesse público. E não contraria a natural simpatia da população pela ação da polícia, que debelou com desassombro o pânico disseminado pelo PCC. A maioria dos paulistanos respeita o heroísmo dos agentes da lei executados no cumprimento do dever ou no recesso de seu lar. E desconfia do ânimo politicamente correto das entidades de direitos humanos em enxergarem truculência policial no que se fizer para dificultar a ação criminosa daqueles que elas consideram pobres vítimas da injustiça social. Reconhece, também, as dificuldades que os policiais enfrentam quando se deparam com suspeitos prontos a agir se aproveitando do fator surpresa. Não aceita, porém, a retaliação pela chacina dos facínoras.
           Quem não deve...
           Para completar o raciocínio sem deixar dúvida alguma sobre minha posição a respeito do tema difícil e polêmico abordado na abertura desta coluna, reafirmo que, mesmo acuado pela ousadia dos criminosos que desafiam a lei e perturbam a paz social e aliviado com a pronta ação dos responsáveis pela manutenção da ordem, o cidadão pacífico exige das autoridades às quais delega o exercício do monopólio da força legítima transparência, obediência às leis e respeito à integridade física alheia. É estranho que a polícia não tenha até agora informado, por vontade própria, o que o MPE passou a exigir e que o governador Cláudio Lembo tenha apoiado, pelo menos até agora sem restrições, essa atitude dela. Afinal, o que tem a temer quem nada fez de errado?
           Antípodas, mas amigos
           Velha e fiel é a amizade dos antípodas ideológicos Luiz Inácio Lula da Silva e Cláudio Lembo. Sou testemunha privilegiada disso, pois eu os apresentei um ao outro no sítio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, às margens da represa Billings, no fim dos anos 70. Lembo procurou o então líder sindical a pedido do chefe da Casa Civil do último governo militar, Golbery do Couto e Silva, que consultava a sociedade civil sobre a revogação do AI 5. Este estranhou que, em vez disso, Lula haja preferido reivindicar o fim das intervenções nos sindicatos. Ali surgiu o respeito mútuo que dura até hoje. Mas não foi propriamente isso que motivou os elogios do presidente à postura do governador paulista no enfrentamento ao desafio do PCC.
           Foi só cálculo
           O que motivou o elogio presidencial foi mero cálculo eleiçoeiro. Lula tem acompanhado o fogo amigo dos tucanos contra o pefelista sobre a questão. Na verdade, as críticas dos próceres do PSDB à forma escolhida pelo governador paulista para enfrentar o PCC provam que lhes faltam caráter, vergonha, autocrítica, inteligência e sensibilidade política. A política de segurança pública do atual governo não passa da extensão da linha adotada pelos tucanos antes. São eles, e não Cláudio Lembo, que têm nojo de polícia e o calcanhar de Aquiles das gestões de Mário Covas e Geraldo Alckmin foi, sem dúvida, fruto de sua incompetência em lidar com a insegurança reinante nas cidades brasileiras. E, ao contrário do que eles imaginam, qualquer um sabe disso.
           Incompetência premiada
           Dia destes, ouvi entrevista do senador Romeu Tuma (PFL-SP) à Rádio Jovem Pan dizendo que foi chamado para a Secretaria de Segurança, mas Lembo foi forçado a desconvidá-lo por se ter comprometido com Geraldo Alckmin a manter o ocupante do posto, Saulo de Castro. Até as pedras da rua sabem que, muito bem-sucedida em outros setores, como atestam as pesquisas, a gestão estadual tucana malogrou na segurança pública. Pobre país este nosso, onde a incompetência é premiada! Por falar em incompetência, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, tem sido mantido. Teria Lembo prometido também mantê-lo? Aí o caso seria mais grave, pois este é o mais notório incompetente de São Paulo.
           HERÓI BRASILEIRO
           O bombeiro morto
           O soldado André Luís Santos Nunes, casado, 2 filhas, foi duplamente herói. Quando vivo, serviu no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo, pertencendo a uma raridade em nossa República: uma instituição pública (e policial) que só merece respeito e até admiração da população que nela confia. Executado covardemente em 15 de maio pelos facínoras do PCC, passou para a História como uma baixa do Bem na ofensiva do Mal, que aterrorizou São Paulo e enlutou a família deste brasileiro como nós.
           Bis com choro
           O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixou da lei eleitoral que o proíbe de continuar distribuindo verbas públicas para governadores e prefeitos depois de 30 de junho para não contaminar a serena opção do eleitor. Já tendo dado uma volta e meia ao mundo em aviões oficiais fazendo campanha não declarada para a Presidência, Sua Excelência não conseguiu com isso sequer chamar a atenção do Tribunal Superior Eleitoral para o fato de nunca ter descido do palanque desde que se candidatou ao posto pela terceira vez, em 2002. O presidente do TSE, Marco Aurélio Melo, fala muito - e bem -, mas nada tem feito de fato para deter o abuso do cada vez mais favorito ao bis, que chora de barriga cheia.
           Chuchu com jiló
           O presidente e candidato à reeleição não deve é ter queixa alguma de seus adversários. Os tucanos, reunidos em Nova York, a uma razoável distância das batalhas de São Paulo, cuspiram no prato que deixaram à mesa para o PFL no maior Estado da Federação. E, para mostrar que não fica atrás do PSDB em matéria de fazer o possível para o adversário não ter de disputar o segundo turno, este partido, antes tido como um símbolo do pragmatismo, indicou para candidato a vice de Geraldo Alckmin o pernambucano José Jorge. Nada contra o escolhido, mas para enfrentar uma candidatura de vento em popa, talvez fosse mais adequado alguém que não lembrasse um jiló para compor uma chapa com o "picolé de chuchu".
           Parai-be-a-bá
           Quando cheguei ao Espaço Cultural José Lins do Rego domingo numa hora bem feliz para fazer uma palestra sobre a ética segundo o escritor americano Truman Capote, Clotilde Tavares me informou que a primeira Bienal do Livro da Paraíba vendera nos três primeiros dias mais ficção que a de Natal, na qual foi inspirada. Depois de responder a perguntas que versaram exclusivamente sobre o tema, sem que ninguém me perguntasse nada sobre os assuntos corriqueiros de meus comentários no rádio e nesta coluna, cheguei à conclusão que este nosso Estado é realmente sui generis . Não foi à toa que aqui nasceram Augusto dos Anjos, José Lins do Rego e José Américo de Almeida, gênios da literatura em português.

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