Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 55
(Próxima: 5/10)


A tragédia de Cassandra, princesa de Tróia

Antes de Páris, filho mais novo de Príamo, rei de Tróia, nascer, a rainha Hécuba sonhou que seu filho seria uma tocha que incendiaria a cidade. Os adivinhos aconselharam Hécuba a matar a criança, mas o casal real resolveu deixá-la longe do reino após o nascimento. O servo encarregado da tarefa recolheu o menino e o criou sem ninguém saber. Anos depois, Páris era pastor e protetor de rebanhos no Monte Ida. Um dia, participou de disputas atléticas em Tróia e foi reconhecido pela irmã Cassandra. Imediatamente foi aceito pelos pais.

Durante as núpcias de Peleu e Tétis, quando se deu o impasse provocado pela deusa Éris, Zeus indicou Páris como juiz da disputa. Hermes conduziu as três deusas até o local onde o rapaz pastoreava os rebanhos e cada uma delas prometeu presentes especiais para tê-lo a seu favor. Hera prometeu o domínio da Ásia; Atena, sabedoria; Afrodite, o amor da mulher mais bela do mundo, Helena, já casada com Menelau. Páris decidiu a favor de Afrodite, selando o destino dele, de sua família e toda a cidade de Tróia.

Quando Páris raptou a espartana Helena, Menelau formou com o irmão Agamêmnon um exército para invadir Tróia e recuperá-la. Antes da viagem, Agamêmnon matou uma corça consagrada à Ártemis, ou disse que nem ela faria melhor. A deusa impediu que os ventos soprassem e o adivinho Calcas revelou que Ártemis exigia o sacrifício da filha de Agamêmnon para que navegassem. O rei concordou e mandou Clitemnestra enviar Ifigênia até Áulis sob falso pretexto de casá-la com o herói Aquiles. Ao descobrir as intenções do marido, Clitemnestra tentou desfazer a situação, mas a própria filha se ofereceu ao sacrifício. Anos depois, a rainha concretizaria sua vingança.

Em Tróia, Cassandra já profetizava sobre a tragédia que estava a caminho. Mas ninguém lhe dava ouvidos. Conta a lenda que Apolo, enamorado dela, concedeu-lhe o dom da profecia, mas como ela recusou se unir ao deus, ele cuspiu em sua boca e retirou o dom da persuasão. Cassandra era desacreditada por todos, mesmo suas profecias sendo verdadeiras. Assim, contra seus argumentos, Páris trouxe Helena para a família e os troianos deixaram finalmente que o cavalo de madeira penetrasse na cidade.

Tróia foi  incendiada e pilhada, homens e crianças do sexo masculino foram mortos. O troiano Enéias, filho de Afrodite e Anquises, destinado a sobreviver, escapou do tumulto e seguiu seu destino de criar descendentes que fundariam a cidade de Roma. Cassandra refugiou-se no templo de Atena, mas o fato de estar abraçando a estátua da deusa não deteve Ájax, que a arrancou do lugar e a violentou. 

As mulheres foram escravizadas. Cassandra foi levada como cativa por Agamêmnon e, segundo alguns, ainda teve com ele os gêmeos Teledamo e Pélops. Retornando vitorioso a Micenas, Agamêmnon foi recebido por Clitemnestra com falsas demonstrações de devoção antes de assassiná-lo. Cassandra também foi morta pela vingativa esposa. Chegava ao fim o sofrimento da princesa que se tornou sacerdotisa sem crédito. Além de prever todas as desgraças da família na Guerra de Tróia e acompanhar todo o drama dos troianos, foi tomada como escrava e assassinada como uma qualquer.

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