COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 106 - 6/8/2011
(próxima: 21/8/2011)


          

PAI, HOJE NÃO QUERO PEDIR...

 Hoje não quero pedir. Tenho a impressão que de uma forma ou de outra sempre pedi a vida inteira alguma coisa a meu pai. Mesmo que não tenha sido explicitamente.

Nesse momento desejo agradecer. Agradecer a oportunidade que tive de usufruir de sua companhia, de seus ensinamentos, de suas palavras, de sua inteligência, do modo como olhava os filhos, misto de suavidade e severidade, da maneira aberta como conversava conosco, da preocupação com nossos estudos, com nossas tristezas e alegrias, da expressão de seus olhos procurando uma maneira de saber se estávamos bem.

Ele era um homem do futuro, mas ao mesmo tempo em certas coisas achávamos que era estranho o contraste de sua liberalidade e do modo como era rígido em certos aspectos.

Admirava meus vestidos curtos, os decotes ousados, os namoros, as festas ou o prazer como me divertia, mas ao mesmo tempo proibiu que eu fizesse teatro. Ficávamos estonteados pela reação austera de certos pensamentos, porém imaginávamos que tinha a influência de minha mãe.

Embora profundamente inteligente e preparado a influência de minha mãe sobre ele era evidente e embora ele tenha concordado com algo que lhe pedíamos, sabíamos que tudo poderia mudar se a mulher fosse de opinião contrária.

Tenho saudades dele, de seu modo de ser, de sua gargalhada sempre tão espontânea, da roda de amigos, das reuniões em casa, das festas de aniversários, dos presentes e surpresas com que nos homenageava.

Desejo agradecer o amor sem limites com que nos cercava e como precisei dele em várias ocasiões diversas e imaginava que estava vivo, sempre pronto a conversar sobre todos os assuntos, fixando-nos com seus olhos azuis e profundos.

Mesmo assim em muitas ocasiões contemplo sua foto em frente ao meu computador e a impressão que tenho é que está me compreendendo quando fico a recordar várias ocasiões, muito crente que ele está me ouvindo ou lendo as palavras que estão prestes a sair.

A justiça era sua maior qualidade, o senso de igualdade, de generosidade ou a mão estendida sempre que alguém precisava. Por isso desejo agradecer a Deus ter passados tantos anos em sua companhia, podendo receber tudo de bom que fluía de seu espírito aprendendo lições que certamente jamais aprenderia em livros.

Gostava imensamente de música clássica ou mesmo popular e aos Sábados acordávamos com o som maravilhoso que enchia a casa inteira de harmonia traduzida nessa arte de sentir cada nota que vibrava.

O meu agradecimento não cessará nunca. A minha certeza de um mundo que poderá sempre melhorar, a confiança nas pessoas, o amor pela humanidade, a confirmação que as pessoas boas sempre estarão em maior quantidade, a vontade de estudar e saber cada vez mais, a necessidade de ampliar e ter cuidado para não magoar as pessoas, a certeza que o perdão está acima de qualquer ressentimento, a ética que praticava incondicionalmente e a alegria de viver tudo isso eu apreciei dentro da minha casa e só desejo que consiga praticá-los.

Obrigada, pai! Obrigada por ter me ensinado um caminho suave, de ter podido conviver com você tantos anos e de ter me deixado noções exatas da humanidade verdadeira.

Colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74,
75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105

Colunas de convidados especiais