E agora, José?

O que farei? Diz como esconder esse vulcão, que disfarço tampando quatro dedos na boca... Como beijar outro de olhos abertos, pensando em você?
Não vou fingir: gozo, arrepio, estremeço, grito, sussurro, escorro em caldos, ardo mil labaredas, tentando afastar inutilmente os odores de amores no farfalhar das asas da fênix renascida desse louco e distante desejo. Fecho os olhos, sim, e vejo seu rosto, penso ouvir sua voz, preencho entranhas com formas estranhas que não as suas. Não é seu cheiro, não são as suas mãos me percorrendo o relevo, não é seu rio desaguando em meu oceano de paixão.
E agora, José?
Se o outro percebe me mata ou se mata, e eu, cada vez mais viva, pensando em você, querendo você, rolando nessa cama, me enrolando nessa trama, e nem nossos olhares se cruzando no horizonte; nem as pontas dos nossos dedos no toque da tarde.
E agora, José?
Já perdi você uma vez; já me perdi de nós dois de outra vez; tenho medo de outro desencontro e ao mesmo tempo temo pelo reencontro, pois quisera fôssemos eternos, sublimados em êxtase... Num amor encantado pelo tempo e além deste.
Como fazer?
E agora, José?
Corre novamente em minhas veias o seu sangue; em meu cérebro, seus pensamentos; em meu corpo, seu desejo; em minha cama, nossa história de encontros e desencontros; de amantes e de amores; de amigos e irmãos. O incesto das almas gêmeas; o estupro dos indecentes; o escândalo dos oprimidos em dogmas, em incertezas, em (dês)valores morais... Reascendo a orgia dos nossos desejos incontrolados, das saudades sem freios, do nosso sentimento desgovernado...
E agora, José?
O que fazer?

Arquivo das colunas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78 , 79, 80, 81, 82, 83

« Voltar