COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ
GUERRA URBANA
Falamos tanta na paz, lutamos, resistimos, pedimos, imploramos àqueles que podem evitá-la que se humanizem, e não permitam que milhões de pessoas inocentes sejam mortas, que não façam justiça pelas próprias mãos ou melhor usando jovens para lutarem, matarem e morrerem. Não sei se me revoltava ou chorava quando ouvi estarrecida a frase macabra de uma autoridade americana que contabilizava o resultado dos ataques do dia.. Ele dizia simplesmente que deviam vangloriar-se de “terem matado mais do que morrido”. Eu não acreditava no que ouvia completamente chocada que um ser humano falasse daquela forma, mesmo numa guerra, sem um mínimo de respeito pela própria vida..
Mas a verdade é que estamos lutando pela paz e esquecendo que também estamos em guerra nas ruas, nas esquinas, nas nossas casas, nos ônibus, nos carros, em qualquer lugar em que estejamos porque a violência está matando mais do que a guerra.
Os fatos tenebrosos que vemos aí, exibido nos meios de comunicação,onde a maldade e frieza fazem dos seres humanos animais esfomeados e sanguinolentos, devorando a sua presa, é realmente estarrecedor.
Essas pessoas não podem ser normais, estão desvairados por um tipo de anomalia cujo vírus é a maldade insana. Não acredito nessa teoria que por ter sido infeliz na infância, alguém seja capaz de virar um canibal. Pelo contrário, no meu modo de entender, isso deveria humanizar as pessoas tornando-as mais compreensivas com outro ser humano que está sofrendo.
Nós estamos diante de uma escandalosa guerra e parece até que já nos acostumamos com esse tipo de luta hedionda.Olhamos, assistimos as notícias como se tivéssemos vendo um capítulo de novela ou uma peça de teatro. Estarrecidos, mas sem reação e os bandidos ainda se transformam em figuras famosas quando a mídia passa a falar todo dia em suas barbaridades e assim muitas vezes acabam se transformando em heróis.
Estamos numa batalha árdua e me parece que as vítimas são maiores do que na própria guerra. Não há mais limite para a truculência de seres humanos que se matam nas cidades e ainda atingem quem não estava nem no meio das rivalidades atrozes que eles defendem.
A vida está aí com essa beleza da natureza, um planeta maravilhoso que nos foi ofertado onde doentes e acidentados lutam para prolongar seu caminho e, no entanto outros se matam voluntariamente sem pensarem em nada mais do que em agredir, atacar matar, trucidar, maltratar.
Estamos em guerra oficial e extra-oficialmente. É um momento muito difícil em que os jovens morrem e matam, ferem e são feridos e ambas as categorias são dignas de pena. Quem se vai, anula toda a sua estrada ainda no começo e sem apelação, deixa a família estarrecida e desesperada. Quem fica, se for um ser humano realmente, não poderá deixar de levar consigo durante toda a existência, o remorso e o sentimento de culpa que são as sensações mais tristes que alguém poderá suportar.
Precisamos de empregos, de uma vida digna para cada cidadão brasileiro, porque a fome só aumentará a revolta, fazendo com que tenha efeitos nefastos mesmo que nada justifique a violência. Está havendo uma luta contra a fome, eu sei, mas não basta. As pessoas, as famílias, as crianças e os jovens precisam sentir que a esperança de um futuro real e legítimo existe
Estamos em guerra nas ruas de nossas cidades brasileiras, uma guerra atroz, violenta, cruel, tirando a vida de inocentes e de gente que além de tudo fará falta ao próprio país como cidadãos que lutariam, trabalhariam por uma nação mais justa, amena e livre. E, no entanto assistimos a tudo e parece que não temos mais reação, fruto talvez da impotência que transtorna.
Lutemos desesperadamente pela paz, mas saibamos que nessa luta deve estar incluída uma reação justa contra a barbaridade que existe nas ruas do nosso país, onde a violência impera, prevalece, frutifica, domina, encontrando guarida na impunidade e complacência diante de bandidos que muitas vezes tornam-se heróis.Os direitos humanos dos presos e dos que praticaram algum crime é alardeado, mas parece que está sendo esquecido o mesmo direito para as vítimas inocentes da guerra urbana que morrem ou sofrem inutilmente e sem esperanças de resgate.
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