Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 59
(Próxima: 5/12)


Zeus e Ganimedes

Zeus governava o mundo dos deuses e dos homens do alto do Monte Olimpo . Além da esposa legítima Hera, o deus teve vários relacionamentos amorosos com deusas e mortais, com as quais teve uma numerosa descendência. Entre os filhos mais famosos, teve Dioniso com Sêmele; engoliu Métis quando grávida e extraiu a filha Atena da própria cabeça; com Leto teve Apolo e Ártemis; com Deméter teve Perséfone. Da esposa Hera nasceram Ares e Hefestos.

Em muitas de suas aventuras, Zeus se metamorfoseou como artifício de sedução e também para escapar aos olhos da ciumenta Hera. Entre alguns exemplos, se tornou touro para Europa e cisne para Leda, mãe dos mortais Castor e Clitemnestra, filhos do marido Tíndaro; e de Helena e Pólux, filhos de Zeus. Mostrou-se a Dânae como chuva de ouro e com ela teve o herói Perseu.

Mas Zeus não perdeu a cabeça somente pelas mulheres. O mais belo dos mortais, Ganimedes, da casa real de Tróia, também foi amado pelo deus. O jovem, que mal havia passado da puberdade, pastoreava rebanhos no Monte Ida quando Zeus o raptou e o levou para o Olimpo. Uma versão do mito conta que a águia de Zeus foi responsável pela missão. No Olimpo, Ganimedes se tornou o copeiro dos deuses, encarregado de servir o néctar durante os felizes encontros entre os imortais. Para compensar o pai do jovem, Zeus mandou-lhe cavalos divinos de presente, além de assegurar que Ganimedes se tornara imortal.

O mito de Zeus e Ganimedes era popular na Antigüidade como justificativa da pederastia, o amor de um homem maduro por um adolescente. Mas não era uma relação sexual entre homens, como sugere o termo homossexual, palavra que só teve origem no século XIX. Na Grécia Antiga não havia tal expressão, e a relação sexual entre pessoas adultas do mesmo sexo não era tolerada abertamente. Normalmente apresentam a Grécia como modelo de homossexualidade livre, mas ao que sempre pareceu, a relação aceita pela sociedade ateniense no período clássico era a pederastia pedagógica, com a finalidade de transmissão de conhecimento do homem experiente ao jovem.

Por conta do preconceito e má interpretação, o significado do mito mudou com o passar do tempo e Hebe, deusa da juventude, substituiu Ganimedes como copeira dos deuses nas representações. Ela mesma já tivera tal tarefa antes do jovem, mas um descuido acabou tirando-a do cargo, o que logo foi resolvido com a escolha de Ganimedes por Zeus. A pederastia hoje tem conotação pejorativa e é considerada perversão sexual.

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