Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 62
(Próxima: 5/2/2009)


Apolo, Senhor de Delfos

Apolo era filho de Zeus e Leto, e irmão gêmeo de  Ártemis. Nasceu na ilha de Delos com  a própria irmã, nascida minutos antes, como parteira. Sua mãe se refugiou na ilha fugindo da furiosa Hera, esposa de Zeus. Gaia, por ordens de Hera,  não ofereceu nenhum abrigo à grávida e Poseidon, Senhor dos Mares, quebrou uma rocha com seu tridente para fazer surgir a ilha de Delos, onde Leto pôde ter os gêmeos.

Apolo teve muitos amores mas, apesar da beleza divina, foi recusado por mortais e divindades. Certa vez disse a Cupido que manejava o arco e a flecha melhor que ele. Ressentido, Cupido acertou Apolo com a flecha do amor e Dafne com a flecha da repulsa. A ninfa fugiu de Apolo e pediu ajuda ao pai, o rio Peneu, que a transformou em loureiro. Apolo declarou amor eterno a Dafne tornando o loureiro sua árvore sagrada.

Também amado por Apolo, Ciparisso matou um veado acidentalmente. Triste pela perda do animal, implorou que suas lágrimas durassem eternamente e foi transformado em cipreste (em grego kypárissos), a árvore da tristeza. O jovem Jacinto acompanhava Apolo nas diversões. Uma vez, enquanto lançavam um disco pelos ares, Zéfiro, o vento oeste, por ciúme de Jacinto, fez com que o disco o atingisse. Apolo transformou o jovem na flor jacinto.

A princesa troiana Cassandra recebeu do deus o dom da profecia, mas não quis se entregar a ele amorosamente. O deus não tirou seu dom, mas cuspiu em sua boca e tirou a credibilidade; ninguém acreditava em suas profecias, embora sempre estivessem corretas. Castália, filha do rio Aquelôo, também fugiu de suas investidas, atirando-se na fonte que recebeu seu nome. Consagrada a Apolo, a fonte Castália fornecia as águas que inspiravam e purificavam as sacerdotisas do templo de Delfos.

 Com a Musa Calíope teve o músico e poeta Orfeu. Com a ninfa Corônis teve Asclépio, que se destacou na medicina a ponto de ressuscitar alguns mortos, sendo fulminado por Zeus. Furioso, Apolo matou os Ciclopes que forjaram o raio mortal. O deus foi condenado a servir o rei Admeto como mortal para se purificar.

Assim como sua irmã Ártemis foi associada à Selene, a Lua, Apolo aos poucos foi suplantando Hélio, o Sol, incorporando seus atributos. Como deus da luz, determinava os dias e noites, transportando pela manhã o carro do sol até o alto do Céu, guardando-o atrás dos montes ao anoitecer.

O deus dirigia também o coro das Musas e a dança das Cárites no Olimpo, distraindo os deuses com sua lira. Algumas lendas dizem que Hermes inventou a lira e a flauta, mas Apolo tocou esses instrumentos com perfeição, sendo considerado deus da música. Aliás,  foi um deus de inúmeros atributos, como médico, curandeiro e protetor das artes em geral, mas adquiriu maior importância entre os gregos por seu caráter profético. Em sua honra foram criados templos onde os fiéis buscavam o conhecimento do futuro, sendo o mais célebre o de Delfos, localizado no lugar onde exterminou Píton guardiã do Oráculo.

Conta-se que Píton perseguiu a grávida Leto a fim de matá-la e evitar que se cumprisse a previsão do oráculo afirmando que seria exterminada por um de seus filhos. Após matar a serpente, Apolo teve que se purificar no vale de Tempe. Tornou-se, então, o deus purificador por excelência. As cinzas da serpente foram enterradas sob o omphalós, o Centro de Delfos. A pele da Píton cobria a trípode sobre a qual sentava a sacerdotisa, chamada de Pítia ou Pitonisa. No templo, a Pítia inalava os vapores que saíam de uma fenda na terra e, em êxtase, anunciava o as previsões sob a influência do deus.

Para celebrar o triunfo de Apolo eram celebrados de quatro em quatro anos nas alturas do Parnaso os Jogos Píticos, em que predominavam as disputas musicais e poéticas. O novo senhor do Oráculo trouxe novos conceitos que influenciaram durante séculos a vida política, social e religiosa da Grécia. As máximas do Templo pregavam a sabedoria e a moderação: “conhece-te a ti mesmo ” e “nada em demasia ”.


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