Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 65
(Próxima: 20/3/2009)

Os castigos de Tântalo e Níobe

Ninguém sabe melhor o que é suplício do que aqueles que tentaram enganar os deuses e tiveram que sofrer tormentos eternos no Tártaro, como Sísifo rolando uma pedra ladeira acima, para vê-la descer em seguida; as Danaides enchendo seus tonéis sem fundo; Íxion girando uma roda em chamas e Tântalo padecendo de fome e sede. Os penitentes só tiveram descanso quando Orfeu desceu no Hades para tentar levar de volta à vida a esposa Eurídice. Com sua voz divina, Orfeu encantou  todo o mundo subterrâneo: Caronte o deixou atravessar o rio; o vigilante cão Cérbero  o deixou passar; Hades e Perséfone concordaram em lhe devolver a amada.

A mesma benevolência não recebeu Tântalo, um rei que vivia na Frígia (ou Lídia). Tântalo era filho de Zeus e da ninfa Pluto, filha de Oceano e Tétis, por isso tinha  acesso livre aos deuses.  Mas ele abusou dessa amizade revelando segredos divinos e roubando seus alimentos exclusivos, como néctar e ambrosia, para compartilhar com amigos mortais.  A transgressão final, que valeu sua condenação, foi ter matado o filho Pélops. O rei convidou os deuses para um banquete e serviu os pedaços do filho morto, com o objetivo de pôr à prova a onisciência divina.

A punição por essa ofensa foi ficar preso eternamente no Hades,  mergulhado até o pescoço em água e sob uma árvore cheia de frutos. Sofria de fome e sede, mas se tentasse mergulhar e beber, a água fugia; se levantasse os braços para pegar os frutos, os galhos das árvores saíam do seu alcance. Há uma expressão conhecida como “suplício de Tântalo”, que traduz o sofrimento da pessoa que deseja algo próximo, mas ao mesmo tempo inalcançável.

Também recebeu castigo eterno sua filha Níobe, temida e poderosa rainha de Tebas, que se orgulhava de possuir sete filhos e sete filhas dotados de beleza e inteligência incomuns. Sobre eles veio a vingança dos deuses pelo que ela fez a Leto, mãe dos gêmeos Apolo e Ártemis – quando proibiu as pessoas de prestarem homenagens na cerimônia em que a cidade lhe dedicava.  A rainha alegou que ela é quem deveria ser homenageada por ser mãe de catorze filhos e não apenas dois, como Leto, e por ser filha de Tântalo com uma das Plêiades. Além disso, gabava-se de que Atlas, que sustentava o céu nos ombros, era seu avô e que Zeus era seu avô e sogro.

Os filhos de Leto foram encarregados de vingar o ultraje. Apolo acertou com flechas os sete filhos de Níobe e Ártemis fez o mesmo com as moças. O marido se matou ao saber da notícia, ou foi morto ao tentar defender os filhos. Níobe se viu rodeada pelos corpos da família e ficou paralisada de dor, o sangue petrificou em suas veias: foi transformada em uma rocha, mas continuava a chorar. Uma ventania levou a pedra pelos ares até uma montanha na Lídia, onde  até hoje está chorando como uma fonte.


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