COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 126 - 6/8/2012
(próxima: 21/08/2012)


          

Um Livro Especial

Eu era ainda muito pequena quando visitava a biblioteca de minha casa e me sentia empolgada com os livros que lá estavam.O livro que mais mexeu com minha emotividade foi sem dúvida “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley. Eu tinha apenas 10 anos e a autora 14. Assim me identifiquei com a jovem escritora a ponto de nunca me separar dessa obra. E olhe que o tempo que me separa da primeira leitura desse exemplar é longo.

trata-se de um diário que me encantou nos dias de menina, levando-me a querer entender o que havia de tão especial numa cidade do interior apimentada de fascinação pela narradora do livro.

Seu pai foi o grande incentivador ao lhe sugerir a ideia de escrever todos os dias. E assim Helena Morley, descendente de ingleses cujo nome verdadeiro era Alice Dayrell Caldeira Brant, começou a fazê-lo com religiosa frequência.

Creio que esse livro me seduziu pela compreensão da menina aos aspectos os mais variados da vida, a percepção da caminhada lenta da tecnologia, a consciência da diversidade social e ao mesmo tempo o envolvimento com o mundo escrevendo com precisão e unindo ingenuidade e perspicácia, dissertando com sinceridade suas impressões das mais simples às mais complicadas e escrevendo a forma de viver de seus parentes naquela pequena cidade mineira, não se importando com as críticas sutis e encantadoras.

Claro que na época eu não sabia discernir o brilhantismo da literatura que eu já amava, mas compreendia mesmo que de forma tênue o quanto aquele livro iria me influenciar. Suas descrições singulares e extravasantes me enchiam a alma de emoção mesmo que eu não soubesse compreender a verdadeira profundidade.

Essa obra me cativou tanto que muitas vezes no caminho da minha vida tenho lembrado de seu conteúdo e voltado a lê-lo e o mais interessante é que consigo sentir uma emoção que além de trazer recordações maravilhosas continua a me envolver profundamente.

O Poeta Carlos Drummond de Andrade e Elizabeth Bishop viram nesse livro o valor literário que os impressionou como ao próprio Guimarães Rosa. Muitos literatos chegaram até a duvidar da idade da autora pelo que vislumbravam no brilhantismo histórico.

Chegaram à conclusão que um adulto jamais poderia ser tão pujante em suas descrições infantis.

Helena Morley diz em seu livro referindo-se à sua família: "Vovó fica toda inchada de ver as coisas que eu escrevo. Mamãe nunca olha o que escrevo, mas vovó quer que eu leia tudo para ela e também para as pessoas de fora". E depois com o mesmo entusiasmo: "Coitada; ela é muito inteligente, mas mal aprendeu a ler e escrever e por isso fica pensando que é uma coisa do outro mundo contar as coisas com a pena".

Creio que ficaria horas aqui a falar dessa obra fantástica que enriqueceu minha vida literária desde muito pequena e me ensinou o valor da palavra. Esse livro foi um best seller embora tenha sido o único de sua safra.

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