"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA


Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 9/7
(próxima coluna: 9/8)

A vida é curva

           A vida é curva. Curvados sobre preconceitos, muitos humanos andam em linha reta. Desconhecem o que seja liberdade individual, o que seja o sujeito gerir seus próprios desejos. A vida é curva, repito. Caminhamos sobre fios diversos, escolhas diversas, mundos a serem desvendados.
            De todos os mistérios que cercam humanos, a sexualidade é aquele mais prenhe de perigos e prazeres. A sexualidade é o tabu e a libertação, a vida e prisão de muitos. Existem os que conseguem relacionar-se bem com isso. Satisfazem-se com o que são e desconsideram se o outro é hétero ou homossexual, bissexual, etc, etc. Existem os que odeiam rótulos. Olham o outro não por sua condição sexual, mas pelas escolhas éticas e afetivas que o indivíduo faz. São pessoas que conseguem andar nas curvas, que conseguem pilotar conforme o movimento que a vida dá. Digo: são mais felizes pois permitem a felicidade alheia. Não ficam apontando, diminuindo, julgando. Gostam do próximo dentro daquilo que o próximo é, daquilo que o outro tem a oferecer.
           Por outro lado, existem os tolos. Gente que tatuou verdades prontas sobre a cabeça. Gente que discrimina o outro por algo insignificante: seja a cor da pele, a origem, o sobrenome, ou a condição sexual. Nada muito relevante, pois que os tolos não sabem o que é isso. Atestam, firmes em suas verdades ocas, que o indivíduo é melhor somente quando aparenta ser como eles. Qualquer dessemelhança já é motivo para ataques, achaques, pedradas na honra, na dignidade humana. Os tolos não sabem o que é dignidade. Padecem desta falta. São merecedores de pena. Pior são aqueles que se sabem iguais aos seus atacados, mas, covardes, escondem-se atrás da máscara da moral e dos bons costumes, e não raro, da violência. Estes não são merecedores de pena.
           A vida é curva. As pessoas podem ser iguais fisicamente, constituídas com os mesmos órgãos e sistemas, porém únicas na alma, na psique, naquilo que carregam de poético. Querer que nossos sentires sexuais e amorosos sejam iguais, uniformes, é desconhecer por completo a grandeza humana. Infelizmente, a maioria desconhece.

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