Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 66
(Próxima: 5/4/2009)

Pélops, o amaldiçoado filho de Tântalo

Pélops foi morto pelo pai, Tântalo, que o esquartejou e ofereceu como banquete aos deuses, com o objetivo de pôr à prova a onisciência divina. Tântalo era filho de Zeus e da ninfa Pluto, filha de Oceano e Tétis, o que lhe permitia livre acesso aos deuses, mas ele abusou do privilégio ao revelar segredos divinos e roubar alimentos como néctar e ambrosia, para compartilhar com mortais. Pelas suas transgressões, os deuses o condenaram a um castigo eterno no Hades e trouxeram Pélops de volta à vida.

Quando habitava na região do Peloponeso, Pélops se apaixonou pela filha do rei da Élida, Hipodamia. Enômao temia a profecia de que seria morto por seu genro, então recusava  todos os pretendentes da filha e os afastava oferecendo a mão dela como prêmio a quem o vencesse numa corrida de carros. Quem perdesse, seria morto. Enômao era filho de Ares e seus cavalos eram presente do deus, por isso já havia facilmente derrotado os primeiros corajosos, cujas cabeças cortadas eram penduradas na porta de casa para desencorajar os próximos pretendentes.

Hipodamia estava apaixonada por Pélops, que aceitou o desafio do rei e foi ajudado pela amada. Os dois subornaram Mírtilo, o cocheiro real, que sabotou o carro de Enômao e garantiu a vitória de Pélops. O novo rei casou com Hipodamia e matou o cocheiro. Antes de morrer, Mírtilo amaldiçoou Pélops, já estava marcado pelos erros do pai, pois a falta cometida em uma geração era passada para outra, conforme a lei do guénos, em que os descendentes de uma família herdavam as desgraças junto com os elementos biológicos. Na tradição bíblica, a transmissão da culpa encontra-se no pecado original que o casal primordial Adão e Eva passou para toda a humanidade.

Pélops e Hipodamia tiveram vários filhos, entre eles Atreu, Crisipo e Tiestes, os descendentes cujas famílias também foram amaldiçoadas com crimes sangrentos, como nos contam as tragédias de Agamêmnon, Egisto, Menelau e Orestes.

O reino de Pélops dominou a península do sul da Grécia, que passou a se chamar Peloponeso. Seu nome ficou ligado à fundação mítica dos Jogos Olímpicos, que inicialmente teria apenas corrida de carros. As competições olímpicas também eram consideradas como Jogos Fúnebres em memória de Enômao.


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