1ª quinzena de julho - Coluna 92
(Próxima coluna: 18/7)
ARANHA
Eu comi tuas linhas finas, quais teias de aranha, a entrega na ara em sacrifício. A pedra branca, mármore polido refletindo teu desespero ante minha fome de sentires, minha sede de teu sangue azul de borboleta nobre. Pobre... Pobre de mim, portando em estandarte um cérebro sem idéias, uma alma vazia e translúcida, sem conteúdo. Mas, por fim, suguei teu âmago, bebi tuas idéias, criei algo de meu – que não teu – tão parecido e tão eqüidistante, ao mesmo tempo, de tua magnitude criativa e inédita. Rasguei tuas páginas e reescrevi tua história. A escória me aplaudindo de pé, meu pé sobre teu cadáver mumificado. A pirâmide erigida sobre tuas idéias, Medéia sem pais ou filhos, um espirro: atchim... Toda essa poeira me deu alergia. A alegria do triunfo se espantou e foi pra longe de mim. E agora, Serafim? Muda, sigo atônita: um ser sem mim. É o fim de uma fase de fantasmas.
Começo novamente o trabalho de fiar. Uma linha aqui, um trançado ali, e uma nova teia se formará.
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