JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL. Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor e conheça a poesia do colunista, cujo CD agora tem opção de download. Site: http://www.neumanne.com
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Teia de sedas e maravilhas
(Orelha escrita para o romance "Luz do abismo", de Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque, Ed. Girafa, 2005, SP)
A experiência de ler este livro é única, você vai ver e sentir logo, meu caro conviva deste banquete de letras. Antes de tudo, vão saltar aos seus olhos o prazer e a alegria de se defrontar com um texto de altíssima qualidade literária e enorme valor antropológico. Raras vezes em minha vida de leitor fanático (a ponto de considerar a leitura o mais celestial de todos os prazeres da vida terrena) me deparei com uma cumplicidade tão grande (talvez o diferencial secreto mais importante para distinguir uma o br a primorosa de uma medíocre) entre leitor e autor como neste romance. Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque domina, como raríssimos autores de todos os sexos, tempos e gêneros, os segredos mais sutis de nossa língua materna e os caprichos de uma narrativa, que pode ser definida como moderna, por estar longe de ser linear, mas ao mesmo tempo clássica, porque em nenhum instante ela permite a quem a segue pelos meandros da história e da geografia do próprio clã sequer imaginar que não esteja diante de uma o br a de ficção de muito fôlego e um irresistível poder de sedução. Habituado aos truques a que os ficcionistas costumam recorrer para manter presa a respiração de seu público-alvo e escravizá-lo aos próprios caprichos, vi-me o br igado a me deixar levar rio abaixo desta narrativa pela rota que a autora estabeleceu, tirana gondoleira das letras que é ela. Tive a impressão inicial de que ela pode ter tentado fazer uma pesquisa genealógica, em voga nas letras nordestinas da virada do século 20 para o 21, tendo se desviado ao longo da artesania de seu bordado textual pelas trilhas da imaginação, como uma Sherazade imaginária a narrar aventuras para si mesma, escapando assim das arriscadas corredeiras daquele gênero sem graça. Mas isso não interessa a ninguém: nem a ela nem a nós outros. Melhor será se deixar enredar no conluio sedutor na teia de sedas e maravilhas que ela teceu de forma magistral. À leitura, pois, eia, sus!
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