"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA


Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 9/9
(próxima coluna: 9/10)

A reforma ortográfica: a distância entre a escrita e a fala

               Existe uma reforma ortográfica tramitando nas altas esferas das instituições que determinam o que é certo e o que é errado escrever. São tentativas de unificar a língua escrita em todos os países de idioma português. Um dos defensores da unificação, Antonio Houaiss afirma:

“Hoje, o português é a única língua ocidental de alguma importância no mundo a ter duas ortografias oficiais, a portuguesa e a brasileira, sem contar as versões de outros países. Inglês, espanhol, francês, alemão têm hoje uma grafia apenas.”

              Além disso, os defensores da atual reforma pensam que uma unificação da língua escrita facilitaria o trânsito de livros didáticos, sobretudo nos países mais pobres, ou seja, os africanos. Hoje, o Brasil não pode enviar livros para Moçambique, por exemplo, da forma como eles são editados aqui, devido as diferenças de escritas. Tem que haver uma adaptação, o que encarece muito o processo.
              O estranho é que a atual proposta de reforma pensa algumas alterações e simplificações, mas mantém outras diferenças, como a acentuação da palavra “anônimo”, que lá em Portugal continuaria sendo “anónimo”. A atual reforma tem pontos polêmicos, mas até certo ponto viáveis, na mesma medida que me parecem inúteis, pois se haverá exceções, para que reformar então? Há em muitos um desejo de facilitar a escrita, aproximá-la o mais possível do som das palavras. Assim o som [s] não poderia ser escrito de tantas formas como é atualmente. Seguiriam no mesmo caminho o z, o g, o x. Não vejo nesta idéia a libertação vista por muitos. A escrita é algo quase estático, uma pobre senhora reumática, enquanto a fala é aquela atleta veloz, quase inalcançável.
              Acredito que reformas devem acompanhar processos naturais de desenvolvimento da língua. A aproximação (danosa? perigosa? insensata? maravilhosa?) entre fala e escrita está acontecendo na escrita feita na internet. Será que nossos honoráveis reformadores estão olhando para este fenômeno (fenómeno)? Será que eles acreditam que um recado como este, encontrado aos milhares na rede, pode ser o embrião da nova escrita em Língua Portuguesa?

Bah...fala u que do meu colega Lipe...Que tem seus ataques a cada minuto, que não se decidiu ainda neh... pelo menos tem a RaFA qu te salva um poko neh, rsrsrs... pah guri, te adoru ai i vlw pelo apoio i por i lah pega lanche qndu a gnt tah cum preguiça i tu vai continua lah cum a gnt heimmmm...
Bjux i boa noiteeee...Te cuida i sorte aí cum a Rafa neh, afinal começamos namorar juntus neh??Jah conto pra ela??
hehe...@ meses i poko tbmmm...hehehe
bjuxxx...Xega d enrolaaa!!
Ah...Lipee...
Vaiiiii.....

              Essa “reforma ortográfica” vinda pela internet me parece muito mais real do que a proposta pelos estudiosos. Mesmo que este novo modelo de escrita seja caótico, instintivo, desordenado; mesmo que ainda seja específico para o mundo do computador, ele é reflexo do caos atual, da rapidez com que temos que nos comunicar, da tentativa da escrita acompanhar a fala. Qualquer reforma ortográfica que realmente queira mexer nas estruturas da escrita tem que olhar para esse acontecimento, caso contrário, qualquer coisa que seja ‘reformada' já será velha novamente.

Sites consultados:
Observatório da Imprensa: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=310ASP008
Orkut: www.orkut.com

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