COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ
Crianças Especiais, uma Vitória
Há alguns anos nascia uma linda menina e seus jovens pais exultaram quando puderam sentir a alegria de tê-la nos braços. Custou um pouco a chorar, ficou durante algumas horas na incubadeira onde receberia ainda um pouco o calor simulado do útero materno.
Saiu do hospital maravilhosamente bem e apesar de ser examinada pelo pediatra só aos dois meses ele constatou um “sopro” no coração. Foi um triste martírio para a família que receava qualquer conseqüência até quando o bebê pôde ter peso suficiente para ser operada logo depois de um ano.
O que acontecia é que uma artéria que liga o coração ao pulmão e que deve ser fechada automaticamente até os sete dias de nascida manteve-se aberta dificultando o bombeamento do sangue e trazendo sofrimentos à criança. No entanto quando fez a cirurgia tudo se normalizou até o momento que a família percebeu que seus reflexos não eram completamente normais e talvez por ter sido muito superprotegida nesse período em que mantinha o sopro, andou e falou com dificuldade pulando o estágio de engatinhar. Foi levado a uma fonoaudióloga e recomeçou a dor da família em outro aspecto, pois foi considerada uma criança especial embora ninguém e nenhum psicólogo pudessem detectar o que realmente lhe acontecia.
Conseguiu ser alfabetizada, mas sofreu discriminação sutil da parte dos professores quando entrou no regime de inclusão, fazendo parte de turmas com crianças consideradas normais. Os professores e diretores dos colégios desanimavam a jovem mãe e durante alguns anos se não fosse a fibra dessa criança ela poderia ter entrado num estado de depressão por baixa estima, vendo que seus professores em vez de estimularem e apesar de seus esforços só aceitavam que ela repetisse o ano, mesmo sabendo que uma criança que precisava de cuidados especiais iria sempre ser mais lenta e ir ao seu próprio ritmo. Nas leis de Educação existe uma de regime de inclusão dessas pessoas o que significa que elas poderão estar numa sala de aula junto com crianças consideradas normais o que fatalmente melhorará a parte cognitiva.
Alfabetizada por uma professora particular, lia e escrevia perfeitamente, mas o estigma do “especial” fazia com que os colégios a rotulassem embora não abertamente. Na verdade não acreditavam nela e a pequena Soraya, linda e meiga sentia-se à parte num mundo que a machucava com um triste preconceito.
Passou por Fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, psiquiatras, clínicas de atendimento a criança “diferente” e imaginem o que essa família e principalmente esses pais sofreram. Era um martírio lento e agressivamente sutil a cada ano. E a garota repetindo o ano porque os técnicos em educação não compreendiam que os casos devem ser tratados individualmente e regras ortodoxas não devem ser mantidas nesse caso.
Um dia Márcia, a mãe de Soraya conheceu algumas mães que se reuniam para discutir os problemas de seus filhos com necessidades especiais e tratá-los como crianças normais. Chamava-se o Clube de mães e o principal conceito de Lurdinha, a mãe de uma delas e que era coordenadora da Amem ( Associação de mães em movimento era: “Acredito na real possibilidade de toda pessoa que nasce com uma condição biológica diferente da nossa, se desenvolver dentro dos padrões esperados pela sociedade”
Márcia entrou para essa organização e seguiu o que essas mães experientes lhe orientaram, acreditando fielmente em seus preceitos de amor, respeito à dignidade do ser humano e salvando sua filha em um ano das discriminações de que era vítima. Contratou uma profissional indicada para orientar Soraya, mostrando-lhe que ela podia conseguir realizar coisas que nunca fizera antes e estimulando seu aprendizado e a menina passou com distinção no colégio, com notas altíssimas enquanto os professores que no começo do ano não acreditavam em nada disso se curvaram á realidade mais luminosa e esplêndida que aconteceu na vida da família de Soraya.
A garota em menos de um ano teve um desenvolvimento pleno. Claro que continua a luta, visitas ao psicólogo e observação constante, mas sem horários contundentes e cansativos de visitas à clínica e com o melhor tratamento que pode haver para o ser humano: A confiança em seu valor, a solidariedade, o carinho, o amor e a falta absoluta de preconceitos.
E como poderiam ser evitados momentos difíceis, anos dolorosos em que a própria Márcia se submeteu a um tratamento psiquiátrico vendo sua filhinha passar por tanta tristeza, observando a luta da pequenina para não se entregar e reconhecendo a sua fibra desde os tenros anos da infância e se desenvolvendo continuamente.
Márcia recebeu o melhor presente de natal que já recebera e pela primeira vez os professores reconheciam que a luta para não alienar um ser humano que nasce com alguma espécie de deficiência não é uma atitude insana.
Desejo dirigir-me aos diretores de escola que recebem crianças com dificuldades cognitivas em regime de inclusão. Dêem valor a essas crianças e não considere maçante nem cansativo um pouco de esforço que pode tirar do abismo pessoas que estão apenas começando a vida. E que vale a pena apostar no amor e na dedicação.
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