Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 111

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot
Leitores queridos,

Hoje meu tema é bastante preocupante e um dos mais cruéis – Tráfico de Animais Silvestres. Sendo o Brasil, um dos mais visados por ter uma biodiversidade muito rica, para os traficantes o negócio é muito lucrativo e os animais são vistos como mera mercadoria.

Participei de uma palestra da Renctas, na EMERJ no RJ, e o que foi visto e falado não me agradou nem um pouco. Estamos acabando com nossa flora e fauna e temos que ajudar a Renctas e outros órgãos de defesa a combater esse comércio absurdo de VIDAS.

Peço, encarecidamente, que vocês não comprem animais silvestres, não achem bonitinho, eles não são animais domésticos e sofreram imensamente para chegar até sua casa. O Ser Humano é extremamente egoísta, sempre quer ter, satisfazer seus desejos tendo um animal diferente, para que outros vejam, como um bem, uma propriedade, mesmo que isso signifique a morte e a tortura de milhares de seres vivos.

Volto a falar aqui: enquanto continuarmos achando que somos superiores às outras espécies, à natureza e enquanto os animais perante a lei, continuarem sendo vistos como “bens”, “propriedade”, e não como um ser senciente, uma VIDA, estamos regredindo e não vejo um futuro brilhante pela frente.

Peço desculpas se as vezes sou dura e pessimista, mas temos que mudar agora, o tempo é curto. Enquanto a crueldade com os animais, com o meio ambiente continuar, não teremos paz, nem esperança de um mundo com abundância de água e verde – que é o que todos necessitam e deviam querer. Dinheiro é bom, mas não compra oxigênio, nem paz... Só água de garrafinha.

Obs: Convido todos vocês, ambientalistas ou não e defensores dos animais a participarem do lançamento da coordenação Ambiental da Oscip IPC, da qual faço parte, no dia 20/09, quarta-feira, às 19:00, no Instituto Veras (Rua Humaitá, 45 – Botafogo). Temos projetos como: Terapia assistida por animais (cães), um Jornal Ambiental e defesa dos animais (Conscientização, sensibilização), cursos e workshops.

Espero vocês lá.

Vale a pena ler essa matéria!

O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes da fauna silvestre devido a sua imensa biodiversidade. Esses traficantes movimentam cerca de 10 a 20 bilhões de dólares em todo o mundo, colocando o comércio ilegal de animais silvestres na terceira maior atividade ilícita do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. O Brasil participa com 15% desse valor, aproximadamente 900 milhões de dólares!!!

A fauna apresenta números relevantes em relação à biodiversidade no mundo. Entre os vertebrados, o Brasil abriga 517 espécies de anfíbios (das quais 294 são endêmicas), 468 de répteis (172 endêmicos), 524 de mamíferos (com 131 endêmicas) , 1.622 de aves (191 endêmicas), cerca de 3 mil peixes de água doce e uma fantástica diversidade de artrópodes: só de insetos, são cerca de 15 milhões de espécies (Ministério do Meio Ambiente, Relatório Nacional sobre a biodiversidade, 1998).

A devastação das florestas e a retirada de animais silvestres já causaram a extinção de inúmeras espécies e conseqüentemente um desequilíbrio ecológico. Os animais mais exóticos, raros e até ferozes, dentre muitos outros, pagam com a vida pelo simples prazer que algumas pessoas têm em possuir um animal silvestre em casa.

Seguindo uma lógica cruel - que determina o valor da espécie pela sua raridade e grau de ameaça de extinção, o tráfico da vida selvagem é hoje um dos principais fatores do desaparecimento da fauna brasileira.

O Brasil abriga mais de 10% de 1.400.000 seres vivos catalogados no planeta. Na classificação mundial em diversidade de espécies o Brasil é o primeiro em primatas, borboletas e anfíbios. A cada ano um número incalculável de filhotes é retirado das matas para serem vendidos como mercadoria. Para os traficantes, o nosso animal silvestre, alguns em perigo de extinção, não passa de uma mercadoria e a natureza, nossos campos e matas, um grande estoque em prateleira!

A Lei de Crimes Ambientais, criada em fevereiro de 1998, considera os animais, seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, propriedade do Estado, considerando que a compra, a venda, a criação ou qualquer outro negócio envolvendo animais silvestres é crime inafiançável.

A maior parte das pessoas que possuem animais silvestres em casa enfrentam uma série de problemas. Algumas acreditam estar protegendo os animais sem levar em consideração todo o sofrimento e estresse pelo qual o animal passa. Ao perceberem o trabalho e cuidados especiais que estes animais exigem, além da dificuldade em mantê-los, as pessoas acabam doando os animais aos zoológicos.

O animal em cativeiro perde a capacidade de caçar seu alimento, de se defender dos predadores ou de se proteger de situações adversas. Se forem libertados, mesmo que em locais propícios, dificilmente sobreviverão.

De cada 10 animais traficados, 9 morrem antes de chegar ao seu destino final. Em outras palavras quase 38 milhões de espécimes são arrancados de seus ninhos (aves) e tocas (mamíferos). Desse número, apenas 1% chegará ao destino final. Vocês têm idéia quantos filhotes estão morrendo, diariamente, nas mãos dos contrabandistas? Eles saem do país, pelas fronteiras, escondidos em malas e sacolas, passando nas barbas da polícia, totalmente dopados, anestesiados e provavelmente já mortos por maus tratos!!

Não bastasse a ação dos traficantes, que é intensa, diária e implacável, o quadro de degradação ambiental que o país enfrenta é o resultado de anos de exploração descontrolados dos nossos recursos naturais. Já é do conhecimento de todos que desde o seu descobrimento, há 500 anos, o Brasil perdeu mais de 90% da sua cobertura original de Mata Atlântica. Exatamente por isso, nossa fauna também está ameaçada. Alí, nesses apenas 10% de Mata Atlântica, concentram-se centenas de espécies seriamente ameaçadas de extinção e o ritmo dessa destruição só faz aumentar o perigo para esses animais.

No Brasil, 218 espécies animais encontram-se ameaçadas de extinção, sendo que 7 delas foram consideradas extintas por não existir registros de sua passagem, observação e presença nas matas há mais de 50 anos.

O Brasil ocupa o 2º lugar no mundo de espécies de "aves" ameaçadas.

As principais causas da diminuição das populações de animais silvestres são :

Há quadrilhas organizadas e especializadas no tráfico de animais e que são bem estruturadas para a venda ilegal. Cerca de 70% do comércio é para o consumo interno e o restante é exportado. Este tráfico envolve um grande número de pessoas, iniciando com os capturadores ou caçadores (geralmente pessoas muito pobres e que conhecem o hábitat dos animais).

A captura acontece em lugares em que há grande biodiversidade: como a região Norte, o Pantanal e o Nordeste — regiões pobres do ponto vista sócio-econômico. As principais áreas de captura estão nos estados do Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e região amazônica. Depois, o animal passa por vários intermediários até chegar aos grandes comerciantes que ficam no eixo Rio - São Paulo.

Nestas capitais acontece o maior volume de vendas. Os animais têm diversos destinos: muitos são vendidos ilegalmente em feiras, outros vão para criadores ou criadouros, quando exportados, o destino é normalmente a Ásia, a Europa ou o Estados Unidos. É comum acharmos na feira de Praga (Europa) araras brasileiras por 4 mil reais, ou seja, o animal que foi capturado por 50 centavos (R$0,50) é vendido por oito mil vezes mais.

Há informações de que a lucratividade do negócio ilícito atraiu a cobiça de organizações criminosas como a máfia russa, que também está participando do tráfico de animais.

Quando recolhidos pela fiscalização, os animais silvestres encontram-se em péssimas condições, alguns já mortos, dopados, maltratados, com fome, sede e frio. São filhotes, são bebês, mal enxergam, sem pêlos e sem penas... Necessitam ser rapidamente alojados, alimentados, protegidos e recebem cuidados médicos. Alguns animais sofrem outro tipo de violência: têm seus olhos furados, para não enxergarem a luz do sol e não cantarem - caso das aves, evitando chamar a atenção da fiscalização. Todos são anestesiados para que pareçam dóceis e mansos.

No Brasil, o comércio ilegal da fauna silvestre divide-se claramente em duas modalidades básicas :

O tráfico da fauna silvestre brasileira divide-se em três objetivos distintos:

Estatísticas:

Animais de estimação

Nome comum

Valor em US$/unidade

Jibóia

800 a 1.500

tartaruga

350

arara-vermelha

3.000

tucano-toco

2.000

 

Animais para coleção e zoológicos

Nome comum

Valor em US$/unidade

arara-azul-de-lear

60.000

papagaio-de-cara-roxa

6.000

mico-leão-dourado

20.000

jaguatirica

10.000


Animais para fins científicos

Nome comum

Valor em US$

jararaca-ilhoa

20.000 (por unidade)

cascavel

1.400 (por unidade)

surucucu-pico-de-jaca

3.200 (por unidade)

coral-verdadeira

31.300 (por grama de veneno)

Animais mais procurados pelo tráfico:

Papagaio-de-cara-roxa
Arara canindé
Arara-vermelha
Corrupião
Curió
Tie-sangue
Saíra-sete-cores
Tucano
Mico-leão-dourado
Macaco-prego
Jaguatirica

Animais para colecionadores particulares e zoológicos: este talvez seja o mais cruel dos tipos de tráfico da vida selvagem, pois ele prioriza principalmente as espécies mais ameaçadas de extinção. Quanto mais raro for o animal, quanto mais ameaçado, ou quanto menos exemplares existir na natureza, maior é o seu valor de mercado.

Exemplos:
Arara Azul de Lear
Arara Canindé (azul/amarela)
Papagaio Cara Roxa
Mico Leão Dourado
Jaguatirica

Animais para fins científicos: neste grupo encontram-se as espécies que fornecem a química base para a pesquisa e produção de medicamentos. É um grupo que percebeu as facilidades no país e por isso mesmo aumenta a cada dia.

Exemplos:
Jararaca
Jararaca Ilhôa
Cascavel
Sapos Amazônicos
Aranha marrom
Outras aranhas
Besouros
Vespas

Os animais abaixo têm substâncias extraídas para serem vendidas por grama.

Exemplos:
Jararaca
Urutu
Surucucu
Coral
Aranha marrom
Escorpião brasileiro

Animais para pet shop's: É a modalidade que mais incentiva o tráfico de animais silvestres no Brasil. Devido à grande procura, todas as espécies da fauna brasileira estão incluídas nessas categorias. Os preços variam de acordo com a espécie e quantidade encomendada.

Exemplos:
Jibóia
Tartaruga
Arara Vermelha
Tucano
Melro
Saíra
Saguí

Endereços para Denúncias
Linha Verde do IBAMA - 0800- 61 8080

RENCTAS:
E-mail: renctas@renctas.org.br
Site: www.renctas.org.br
Caixa Postal: nº. 6231 / Brasília - DF

Fonte: RENCTAS (Rede Nacional contra o Tráfico de Animais Silvestres) / Ambientebrasil              http://www.ambientebrasil.com.br


Esta coluna é atualizada quinzenalmente, às segundas-feiras
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