Arquitetura

Como um pedreiro, um arquiteto, construo e descontruo sentimentos.
Sim, eu sei a arte da construção do amor, talvez apenas da paixão – esta (acho), que não mais. Mas, o amor, ainda sei construir, desde que a base seja sólida, o embasamento firme e o projeto bem elaborado. Vou derrubando paredes inúteis, construindo novas; abro janelas iluminando as salas, e os quartos, mantenho-os à penumbra adequada pra uma tarde de amor. Sou tão eficiente no que faço que às vezes me surpreendo, quando me pego assim distraída, construindo ao acaso, perdida em sonhos de solidão, e alguém desavisado, andando ao lado e ao largo, entra na casa vazia e resolve se sentar numa cadeira esquecida num canto qualquer. Coisas de mulher, lisonjeada e confusa, começo a desconstruir as paredes, até que o visitante se sinta incomodado pela chuva, pelo vento, pela neve de meu olhar – tão frio quanto minhas entranhas são quentes.
Não, eu não quero as desilusões e os enganos que acompanham essa fase de desamor e esquecimento. Fechei pra balanço, entrei em concordata, e nessa data comemoro apenas minhas ambições de liberdade: tardes de pijama, arrastando um chinelo quentinho, tomando um cafezinho morno, o em torno me fazendo fundo e isto é o que se assemelha, no momento, à cara da felicidade.

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