Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 73
(Próxima: 17/7/2009)

No princípio era o Caos

“No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo.” (Gênesis - Bíblia Cristã)

O Caos não é um conceito exclusivo da mitologia grega. Do Fiat Lux bíblico ao Big Bang, vários povos criaram sua cosmogonia, ou seja, a explicação sobre a origem do Universo. Os poetas da Antiguidade contavam em suas narrativas os mitos sobre a criação do mundo, e todos concordam que no princípio havia o Caos, uma matéria que existia sob forma indefinível. Depois, organizado com as divindades primordiais, O Caos passou a Cosmos.

Alguns contaram que Gaia, a Terra, surgiu do Caos e criou Urano, o Céu, para preencher o espaço vazio sobre ela. Caos também era capaz de fecundar, então gerou Nix e Érebo. Nix, a Noite, representava a escuridão acima da Terra. A escuridão profunda do momento da criação era o Érebo. Como a Terra estava coberta pela obscuridade que a cobria, Nix e Érebo se uniram e finalmente houve a Luz que “clareou” o Universo. Seus filhos foram Éter, representando a luz atmosférica, e Hemera, a luz do dia. Na Bíblia Cristã, é o que mostram os trechos “Disse Deus: Haja luz; e houve luz”; “E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite”.

Nix gerou sozinha outras divindades. Seus descendentes mais importantes foram as Hespérides, as Moiras, Nêmesis, Éris e Lete. Essas divindades primordiais puderam se unir pela intervenção de um poder eterno como o próprio Caos, e que pode ser traduzido como Amor. Esse deus da união, anterior a qualquer outro, inspirador da simpatia capaz de unir os seres para as procriações, foi identificado como Eros.

Da Noite e do Caos também nasceu o Destino, uma divindade cega e implacável a quem todas as divindades se submetiam. Suas leis estavam escritas desde o começo da criação, e os deuses podiam consultá-las, mas nunca revogá-las. Os Oráculos também podiam revelar o que estava escrito no livro do Destino. As três Moiras (ou Parcas) estavam encarregadas de executar as ordens do Destino desde o nascimento até a morte: Cloto tecia o fio da vida; Láquesis sorteava quem ia morrer; Átropos cortava o fio no momento previsto.

Ao cobrir Gaia, Urano a fecundou. Dessa união nasceram várias divindades da primeira geração que também se uniram e geraram outras divindades. Daí nasceram os Hecantoquiros, os Ciclopes, as Titânidas e os Titãs. Urano, temendo perder o poder, devolveu os filhos ao ventre de Gaia e continuou fecundando-a. Gaia conspirou contra ele e libertou os filhos. O titã Crono lutou contra o pai e o castrou. Os genitais cortados caíram no mar e, da espuma que se criou, nasceu Afrodite, deusa da Beleza e do Amor. Do sangue de Urano sobre a Terra nasceram as Melíades, as Erínias e os Gigantes.

Após destronar o pai, Crono tomou posse do reino, casou com a titânida Reia e teve muitos filhos, mas, como fez seu pai, também devorou os filhos, temendo ser destronado. Reia tentou, como Gaia, salvar os filhos, e teve um filho salvador, Zeus, que se tornou o mais importante dos deuses gregos. Ele mantinha a ordem do mundo e dominava o Céu e fenômenos atmosféricos. Sua ascensão ao poder foi conquistada pelas vitórias em diversas lutas e seu domínio consolidado pelas ligações amorosas com deusas e mortais.

Zeus não era um deus criador, mas um conquistador, e suas vitórias o fizeram o chefe dos deuses e dos homens, e senhor absoluto do Universo. As lutas de Zeus simbolizam a vitória de novos deuses sobre as antigas divindades dos povos pré-helênicos e também as lutas contra as forças primordiais na reorganização mítica do Universo.

 

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