Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 74
(Próxima: 5/8/2009)

Os Mistérios de Cibele

Gaia personificava a capacidade geradora da Terra. Como primeira entidade a emergir do Caos, dela provêm as linhagens divinas. Primeiro surgiram Urano, o céu, as Montanhas e Ponto, o mar. Gaia se uniu a Urano e Ponto e gerou numerosos descendentes. O culto de Gaia era frequente em épocas antigas da cultura grega, mas foi suplantado pelos cultos dos deuses do Olimpo. Em Delfos, principal local de seu santuário, foi instalado o Oráculo consagrado a Apolo, o deus que matou a guardiã Píton.

Gaia não era como as deusas-mães pré-helênicas, ligadas aos animais e à vegetação. Esses atributos foram incorporados mais tarde por deusas como Afrodite, Ártemis, Deméter e Cibele/Reia. A titânida Reia se uniu a Crono após a destituição de Urano e com ele gerou os primeiros deuses olímpicos: Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseidon e Zeus. As representações mais importantes de Reia são as que remetem ao nascimento de Zeus, quando foi para a ilha de Creta e deu à luz ao menino que destronaria o pai Crono. Reia logo foi equiparada com a deusa Cibele.

Cibele teve origem na Frígia, Ásia Menor, onde era designada como deusa-mãe, e seu culto se espalhou por diversos territórios gregos. Era geralmente mostrada em um trono, usando uma coroa alta e dirigindo um carro puxado por leões. As torres sobre a sua cabeça representam as cidades sob a sua proteção, a chave na mão indica o tesouro que a terra esconde no inverno e oferece no estio. Os leões demonstram que, por mais feroz que seja, nada deixa de ser domado.

Como as deusas Deméter e Perséfone, Cibele era uma divindade do ciclo de vida-morte-renascimento e possuía seus Mistérios sagrados. Na Primavera, eram-lhe consagradas festas com ritos de penitência e flagelação, com a reprodução dos episódios da morte e ressurreição de Átis, o jovem a quem confiou os cuidados do seu culto. Átis não poderia violar o voto de castidade, mas uma versão do mito conta que ele desfez o juramento ao desposar uma ninfa , e Cibele o enlouqueceu. Átis se mutilou e, quando ia se enforcar, Cibele o transformou em pinheiro. O culto de Cibele e Átis deu origem a Mistérios de caráter oriental.

Cada região produziu sua própria religião de Mistério. O Egito cultuou Ísis e Osíris, Síria e Palestina cultuaram Adônis, e a Pérsia cultuou Mitra. Entre as mais antigas religiões de Mistério gregas estavam as de Deméter, Dioniso e Orfeu. Em cada religião havia um ciclo anual de vegetação, renovado na primavera e terminado no outono. Os seguidores davam significações simbólicas aos processos de crescimento, morte, decadência e renascimento. As cerimônias secretas se relacionavam a um rito de iniciação, no qual era compartilhado um “segredo” ao iniciado, com informações sobre o deus cultuado e como poderia alcançar a unidade com a divindade. Esse conhecimento era inacessível a pessoas fora do grupo.

Além dos elementos comuns aos cultos, como jejuns, procissões, purificações e dramaturgias, uma das principais características dos cultos de Mistério era estarem centrados em um mito, que normalmente falava do retorno da morte à vida, bem como da redenção. Os adeptos, em êxtase religioso, pareciam experimentar o começo de uma nova vida. Enquanto a fé cristã só reconhece um caminho a salvação, Jesus Cristo, as religiões de Mistério não impediam o devoto de seguir vários mistérios.

Arquivos anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73         

« Voltar