Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 121

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Olá leitores,
vamos pensar? Os animais definitivamente não são NOSSOS!

Abraços


Texto de Fernanda Ferreira/GAE PORTO ALEGRE (Belo texto abolicionista!).

Gatos, Aves e Homens

Os gatos, um dos animais que há várias centenas de anos trouxemos para dentro das nossas casas com o propósito de servir às nossas necessidades, privando-os de seu habitat e da possibilidade de exercerem seus instintos, são criaturas maravilhosas que sempre mantiveram uma aura misteriosa. Gatos sempre despertaram paixões e ódios, foram responsabilizados por desgraças e adorados como deuses e até hoje sofrem com a ignorância humana. Talvez seja porque tenham conseguido preservar dentro de si aquela parte selvagem, independente e perspicaz que os mantêm tão ligados à natureza, mas também por serem, ao mesmo tempo, amantes incondicionais das nossas cobertas. Creio que a constatação mexe conosco, animais humanos, por nos atirar à cara o quanto nos afastamos da natureza, o quanto não soubemos preservar nossa ligação com ela. Ou quem sabe, ainda, os felinos mexam conosco porque, ao contrário de muitos de nós, não necessitam bajular ninguém, serem hipócritas, venderem-se por alguma migalha. Felinos não convivem com desrespeito, não se submetem aos nossos caprichos. Não sei, quem saberá?

Dentre os muitos mitos que cercam os gatos está o de que eles exterminam os pássaros dos parques e praças das cidades. Aqueles que fazem tal afirmação deveriam considerar algumas questões:

1) Os gatos são descendentes de gatos selvagens que viviam tranqüilamente em seu habitat natural, muito longe das cidades e que foram dele arrancados pelos homens com o propósito de exterminar os ratos de navios, celeiros e assim por diante. Portanto, eles não vieram e não vivem nas cidades por escolha própria. Foram para elas trazidos, como escravos, para servir aos humanos;

2) Os animais, mesmo adaptando-se a novos habitats e condições de vida, continuam agindo de acordo com seus instintos de sobrevivência, necessitando, para isso, alimentarem-se e reproduzirem-se, num ambiente de relativa segurança. Os gatos, mesmo que hoje sejam completamente dependentes dos humanos para alimentarem-se e sobreviverem (embora essa não tenha sido uma escolha deles) continuam, mesmo que de modo reduzido, com seu instinto de caçadores e as aves são uma das presas naturais dos gatos, assim como os ratos - com a única diferença de que estes são indesejáveis aos olhos dos homens (mas somente nas suas casas, não nos laboratórios, diga-se de passagem, onde essas criaturas são, então, consideradas extremamente "úteis");

3) As aves, e aqui falamos daquelas que ainda vivem soltas (pois muitas são engaioladas pelos humanos, que ao fazerem isso estão novamente pensando nos seus próprios interesses) estão igualmente sendo privadas de seu habitat natural, e obrigadas a residirem nos parques, nas praças e nas áreas verdes das cidades que são, a cada dia, mais destruídas pela especulação imobiliária. A destruição de inúmeras árvores nativas que são casa e alimento para centenas de aves, para a construção de arranha-céus, é muitíssimo mais devastadora do que a caça de aves pelos gatos;

4) Difícil compreender as razões daqueles que se dizem preocupados com o extermínio das aves dos nossos parques quando estas mesmas pessoas sentam-se à mesa e as comem. Ou por acaso galinhas, frangos, perus, patos, marrecos, perdizes, faisões não são aves?

Alguém que se diz preocupado com a morte das aves das praças, culpando por ela os gatos, e é responsável pelo sofrimento e morte de milhares de outras aves nos abatedouros, provavelmente ainda não tenha se dado conta de sua insensatez. Gostaria de acreditar nessa hipótese.

Não podemos aceitar tamanha quantidade de pesos e medidas. Ora tratamos os 'inúteis' gatos que matam passarinhos como 'úteis' por exterminarem os 'inúteis' ratos que por sua vez serão 'úteis' em nossos experimentos científicos...

Animais, assim como humanos, não são úteis nem inúteis. Não são mercadorias ou produtos utilizáveis, dos quais dispomos de acordo com as nossas conveniências, necessidades e desejos. Não estão aqui para servir aos nossos propósitos.

Não aceitamos qualquer uso ou exploração de qualquer animal, assim como não aceitamos que culpem os animais pelos erros cometidos pelos humanos.


Esta coluna é atualizada quinzenalmente, às segundas-feiras
Próxima: 2/4/2007

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