Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 77
(Próxima: 20/9/2009)


Filêmon e Báucis, o casal acolhedor

Após a Guerra de Troia, o herói Ulisses passou anos tentando voltar para casa e foi recebido como hóspede em vários lugares. No palácio do rei Alcino foi acolhido com as honrarias de um visitante; as escravas lavaram suas mãos e ofereceram as melhores iguarias. Mas não teve a mesma sorte na ilha dos gigantes Ciclopes. Quando o  herói solicitou  hospitalidade, o ciclope Polifemo ironizou o pedido e ainda devorou alguns marinheiros que viajavam com Ulisses.

Outro desrespeitoso foi Laio, quando estava exilado na corte de Pélops e se apaixonou por Crisipo, príncipe herdeiro do trono. Raptando o jovem, Laio foi contra a hospitalidade sagrada, cujo protetor era Zeus, e também Hera, protetora dos amores legítimos. Laio foi amaldiçoado por esse ato, embora a maldição da sua família, chamada de Labdácidas, ocorresse desde antes dele. Seu futuro filho seria Édipo, o desafortunado rei que matou o pai e casou com a própria mãe.

A hospitalidade era uma das maiores virtudes apreciadas pelos gregos antigos, e seu mito está presente em diversas culturas, representando a visita de um deus a um mortal para testar sua bondade. Não só o rei Alcino, mas como todos os gregos da época procuravam tratar bem um  estrangeiro, pois imaginavam que ele podia ser um deus disfarçado de humano.   Na mitologia grega, os mais hospitaleiros humanos foram descobertos por Zeus e Hermes.

Entre as várias representações do deus Hermes, uma delas era o peregrino, aquele que chega e é recebido com comida, bebida e lugar de descanso. Um dia Hermes e Zeus andaram no mundo dos homens disfarçados de viajantes famintos e cansados para testar a bondade dos humanos. Foram de casa em casa, desde as mais simples até os casarões, e em todas elas receberam respostas hostis. Quando pensaram em desistir, avistaram um casebre no alto da colina. Lá foram recebidos por um casal idoso cujos filhos já tinham ido embora.

Filêmon e Báucis pediram que os viajantes entrassem, foram atenciosos e pediram que se servissem do melhor que tinham. Nem desconfiaram que os dois pedintes eram deuses do Olimpo. No meio da refeição, perceberam que o vinho não esvaziava na jarra, mesmo tendo bebido bastante. Logo pediram desculpas por não terem reconhecido os deuses. Em retribuição à boa acolhida, Zeus disse que eles poderiam pedir o que quisessem. Os dois pediram para que morressem juntos, assim um não sofreria a ausência do outro.

A casa onde estavam foi convertida em templo, do qual os dois se tornaram sacerdotes. Pela sua hospitalidade e atenção aos deuses, viveram bastante, até o dia em que morreram e seus corpos se transformaram em árvores, ele em carvalho e ela em tília. As duas ficaram lado a lado diante do templo.

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