Mito em contexto - Coluna 80
(Próxima: 5/11/2009)
Zagreu, o primeiro Dioniso
O gesto dos Titãs foi incorporado aos rituais relacionados a Zagreu, quando, nas festas comemorativas, o dilaceramento do deus era relembrado com animais sacrificados. A ingestão da carne simbolizava a junção com o deus, como se a própria divindade penetrasse no ser do indivíduo.
Zeus fulminou os Titãs pelos seus atos e das cinzas nasceram os homens. Com esse fato, os órficos pregavam a reencarnação e a origem divina da alma, explicando que os homens descendem dos deuses, que participam de algum modo da natureza humana. O mito também explicava a natureza humana, composta de bem e mal: cada ser humano traz dentro de si uma faísca do divino, sinônimo do bem. A parte titânica é má.
Em uma versão da lenda de Zagreu, a deusa Deméter salvou o coração ainda palpitante e devolveu-lhe a vida. Em outra versão, Zeus engoliu o coração antes de fecundar Sêmele com Dioniso, ou deu para que Sêmele engolisse. De qualquer forma, Sêmele, a princesa tebana, engravidou do “segundo” Dioniso.
Hera resolveu eliminar a rival ao convencê-la a pedir uma prova de que o amante era mesmo Zeus. Hera sabia que um mortal não teria estrutura para aguentar a epifania de um deus. Zeus prometeu atender a qualquer desejo de Sêmele, então ela pediu que ele se mostrasse em todo o esplendor divino. Quando Zeus se mostrou em raios, ventos e trovões, queimou todo o palácio e a própria Sêmele.
O feto do futuro Dioniso foi salvo por Zeus, que o recolheu do ventre de Sêmele e o colocou na própria coxa, onde completou a gestação normal. Quando o menino nasceu, Zeus o entregou a Hermes, que o levou ao casal Ino e Átamas, mas Hera novamente descobriu o esconderijo da criança e levou os dois à loucura, fazendo com que matassem os próprios filhos.
Zeus transformou Dioniso em bode e, em uma nova fuga, Hermes o levou para ser criado pelas ninfas e sátiros no monte Nisa. Quando adolescente, foi lá que Dioniso descobriu a videira, colheu cachos, espremeu e bebeu do novo néctar, o vinho. O culto a Dioniso estava relacionado aos ciclos da natureza e realizado na época da colheita da uva, para agradecer a abundância da vegetação. Nessas festas, o vinho, o canto e a dança animavam os participantes vestidos e mascarados que relembravam o Dioniso menino correndo pelos bosques acompanhado das ninfas, sátiros e outros seres.
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