Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 130

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Leitores,

Hoje coloco aqui dois artigos que encontrei, bastante curiosos. Um é sobre quantos vegetarianos existem no Brasil e no mundo, e o outro, um pouco diferente, sobre uma visita ao médico. Hoje o meu foco foi mais voltado à saúde, mas tudo está interligado. Se nos tornamos veganos por respeito aos animais e à ética, também melhoramos nossa saúde física e mental, preservamos nosso meio ambiente, nos sensibilizamos cada vez mais e nos libertamos do sistema e de várias "verdades" impostas. Mesmo que nesse mundo de hoje não consigamos ser livres cem por cento, com certeza somos mais do que a maioria. Até nos filmes podemos notar a exploração dos animais, é só perceber as mensagens subliminares, sutis, mas a escravidão não humana está contida no nosso dia a dia de forma brutal. Open your eyes...

Abraços Vegs

Artigos retirados do site: http://www.vegetarianismo.com.br

Quantos são os vegetarianos?

O Instituto IPSOS em recente pesquisa constatou que 28% das pessoas no Brasil “têm procurado comer menos carne”. É o segundo maior índice mundial, próximo ao canadense e maior que o britânico. Fica atrás apenas do registrado nos Estados Unidos, onde os hambúrgueres são uma das maiores fontes de doenças cardiovasculares e sentimento de culpa.

Este dado saiu na matéria da Época:

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74447-5990-421,00.html

Outro indicador de que há crescente interesse é que duas das maiores indústrias de carne abriram linhas vegetarianas – com esse nome: vegetarianas. Certamente empresas como a Perdigão e a Sadia fizeram pesquisas para lançar sua linha vegetariana e devem ter constatado que é um nicho a explorar.

Mas alguns números revelam o crescimento deste segmento – ou o ´dar-se a conhecer´. Em 2000 o Sítio Vegetariano (http://www.vegetarianismo.com.br) - site que coordeno – lançado em 1999, recebia cerca de 4 mil visitas por mês e contava com uns 300 sócios. A lista de discussão sobre vegetarianismo, veg-brasil, tinha cerca de 90 membros de todo o país e alguns de fora. Hoje o Sítio Vegetariano recebe 4 mil visitas por dia e um milhão de hits (cliques dentro do site) mensais. A lista veg-brasil tem em média uns 2000 membros permanentemente.

Depois do Congresso Vegetariano Mundial realizado em 2004 em Florianópolis todas as listas de discussão dobraram de tamanho. E também proliferaram sites sobre o tema na Internet e nas comunidades do Orkut. Estamos realizando o nosso primeiro Congresso na cidade de São Paulo, de 4 a 8 de agosto, no Memorial da América Latina.

A tendência mundial é de crescimento do vegetarianismo – na Inglaterra – onde existem surveys – 47% da população se autodenominou vegetariana, mas checadas as respostas se verificou que na verdade boa parte deste número comia peixe e frango – carnes brancas – e se considerava vegetariana, mas não era. Mas isso indica uma vontade de ser vegetariano.

No Brasil essa tendência é crescente – assim como o interesse por ´alimentação saudável´, onde o vegetarianismo se encaixa muito bem.

Também é sinal da existência de um público consumidor considerável a oferta cada vez maior de produtos próprios para os vegetarianos na grande maioria dos supermercados do país - aliás este é um dos únicos setores que estão em expansão no momento, juntamente com o de produtos orgânicos, também consumidos por vegetarianos, segundo a associação de supermercadistas de São Paulo. Pode-se observar isso em praticamente todos os supermercados, onde as gôndolas destinadas a produtos naturais, integrais e orgânicos aumentam cada vez mais. E até em mercados menores os produtos ´saudáveis´ estão sendo ofertados.

Também cresce o número de restaurantes vegetarianos no Brasil. Hoje praticamente não há cidade de porte médio que não tenha restaurante vegetariano.

Veja algumas estatísticas lá fora:

http://www.vegsoc.org/info/statveg.html

Veja algumas estatísticas em outros países em:

http://www.ivu.org/htsearch.cgi?config=htdig&restrict=www.ivu.org&exclude=&method=and&format=builtin-long&sort=score&words=how+many+vegetarians

http://www.vrg.org/nutshell/poll.htm

http://www.vrg.org/journal/vj97sep/979poll.htm

http://www.ivu.org/history/index.html

Escreva no google how many vegetarians e terá vários sites para pesquisa sobre estatísticas.

Curiosidade: Mais de dez por cento da população inglesa é vegetariana. A cada semana cerca de 2.000 ingleses viram vegetarianos. As escolas deste país são obrigadas a oferecer refeições vegetarianas (também).

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Existe uma pesquisa que comprove o benefício já providenciado pela comunidade vegetariana hoje no mundo? (por exemplo, o benefício direto de 1.000 pessoas que deixam de comer carne de gado, qual o impacto disto?).

Esse tipo de estudo que eu saiba não existe, o que mais existem são estudos sobre a saúde dos vegeterianos, como o famoso China Project do Dr T. Colin Campbell, que estudou a relação entre dieta e doenças e encontrou forte apoio para as dietas vegetarianas. Aliás o Dr Campbell é um dos possíveis palestrantes do Congresso. Segundo ele os vegetarianos vivem de 8 a 10 anos a mais que os não vegetarianos.

http://free.freespeech.org/nhn/china.htm

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Qual o perfil dos vegetarianos nos dias de hoje?

A maioria é de ovo-lacto-vegetarianos, estando em grande expansão os veganos – sobretudo em razão de os animais cada vez mais serem criados confinados em condições execráveis. Tem vegetariano de todas as classes sociais e profissões, mas as mulheres são em maioria geralmente – pelo menos onde foram feitas pesquisas - como Inglaterra e Estados Unidos.

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Existe diferença no perfil dos vegetarianos do Brasil e do exterior?

Hoje há uma grande uniformização, por assim dizer, dos vegetarianos de todo o mundo – sobretudo no Ocidente, por causa da comunicação facultada pela Internet e os grupos de discussão. Uma notícia que saia no Canadá no mesmo dia circula pelas listas do mundo todo – e também pelos boletins eletrônicos de notícias – e logo atinge centenas e milhares de vegetarianos. Mas isso claro acaba se dando dentro de um certo público que tem acesso a internet, havendo, portanto, uma limitação do alcance destas informações.

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Quais os principais motivos que levam uma pessoa a se tornar vegetariana?

Cada vez mais a motivação ética faz as pessoas adotarem o vegetarianismo – sobretudo entre os jovens. Mas também a saúde é um fator importante. Além disso, motivações de cunho religioso, e em razão do impacto ambiental e outros provocados pela dieta centrada na carne têm o seu peso.

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Quais as fontes indicadas para se conseguir dados e características de um estilo de vida vegetariano e seus segmentos (melhores sites, livros, autores, congressos e especialistas).

Sites na Internet e organizações

• Sítio Vegetariano (www.vegetarianismo.com.br). Grande variedade de informações sobre vegetarianismo/veganismo. 

• Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB (www.svb.org.br). Organização que objetiva propagar o vegetarianismo no Brasil. 

• TAPS (www.taps.org.br). Maior acervo de livros e revistas sobre vegetarianismo, vivissecção e saúde comunitária da América Latina. Videoteca, publicações, panfletos. 

• Guia Vegano – www.guiavegano.com.br 

• UVLA - União Vegetariana Latinoamericana - www.ivu.org/uvla

• União Vegetariana Internacional (IVU) (www.ivu/org/portuguese). Enorme quantidade de informações em diversos idiomas. Para promover o vegetarianismo a IVU organiza a cada 2 anos um Congresso Mundial em diferentes lugares do mundo (www.ivu/org/portuguese/about.html)

• Vegetarian Society (http://www.vegsoc.org). Primeira organização vegetariana do mundo, fundada em 1847 na Inglaterra e existente até hoje. 

• Vegan Society (www.vegan.org). Centro de informações sobre veganismo. 

• American Vegan Society (www.americanvegan.org). Informações sobre veganismo. 

Listas de discussão sobre vegetarianismo/veganismo 

• Veg-brasil (http://br.groups.yahoo.com/group/veg-brasil). Objetiva discutir o vegetarianismo em todos os seus aspectos. 

• Veg-latina (http://es.groups.yahoo.com/group/veg-latina). Objetiva unir esta região do mundo sob uma perspectiva vegetariana. 

• Veg-receitas (http://br.groups.yahoo.com/group/veg-receitas). Troca de receitas vegetarianas. 

• Jovens vegans (http://br.groups.yahoo.com/group/jovens_vegans). Lista de discussão sobre veganismo direcionada aos jovens. 

Veja um dos melhores restaurantes veganos do mundo:

http://www.millenniumrestaurant.com

San Francisco Weekly's "Best Veg Restaurant of 1999" continues to astonish and delight diners with dishes and techniques stemming from Italian, Mexican and Japanese cuisines. Be sure to try the beguiling plantain torte: whole-wheat tortilla sheets layered with fresh plantain and creamy cilantro tofu, served with a spicy mango-tomato salsa and a red pepper romesco.

246 McAllister St., San Francisco, CA 94102 (415) 487-9800 www.millenniumrestaurant.com


"Uma lata de lixo" - Gloria Swanson

O médico se chamava Henry C. Bieler e seu consultório era tão pequeno e modesto que conferi novamente o endereço antes de entrar. Não havia recepcionista nem enfermeira, apenas uma sala simples com algumas cadeiras e um aviso na parede com os dizeres: PROIBIDO FUMAR. "Ah, não!", pensei. "Será que fiz esta longa viagem até Pasadena para ouvir um sermão sobre os perigos do fumo?”

O Dr. Bieler era um homem franzino, pouco mais alto do que eu. Lembrava mais um guarda-livros do que um médico. Não usava avental nem estetoscópio, não cheirava a remédio nem a desinfetante. Repeti o que já havia informado por telefone — que eu temia estar com úlcera e que a Sra. Crey o havia recomendado. Ele não parecia prestar muita atenção às minhas palavras. Apenas me fitava. Indicou uma cadeira em frente à sua mesa convidando-me a sentar. Finalmente, falou:

- Por favor, tire os brincos.

Levei a mão à orelha enquanto pensava: "Que coisa mais ridícula, acho melhor ir embora”. O médico, porém, continuava a me olhar com insistência de modo que tirei os brincos e guardei-os na bolsa. Tirando da gaveta um grande bloco amarelo e um lápis, o doutor perguntou:

- O que você jantou ontem à noite?

Eu continuava confusa por causa da história dos brincos, mas ao menos esta pergunta relacionava-se com o meu estômago, onde sentia a dor, portanto apressei-me a colaborar.

- Um coquetel de camarão.

- Você não comeu aquelas coisinhas antes de ir para a mesa?

- Ah, sim. Deixe-me ver, comi umas amêndoas defumadas, azeitonas verdes envoltas em bacon e um ovo recheado.

Ele anotava tudo. Quando chegou ao ovo, pediu-me que aguardasse um instante até que pudesse me alcançar. Divertida, olhei o que ele escrevia. Ovo recheado não eram apenas duas palavras e sim uma lista de todos os ingredientes: ovo, maionese, mostarda, páprica, molho inglês, cebolinhas.

- E também um pouco de patê e um folheado de queijo - conclui apressada a fim de fazê-lo compreender que eu era uma mulher ocupada e não estava com disposição para besteiras. Sem alterar o ritmo, ele adicionou esses itens à lista.

- Você bebeu? - perguntou ele.

- Sim. Uma pequena dose de vermute.

- Muito bem. Agora voltemos ao jantar. O coquetel de camarão foi servido com que molho?

Tive vontade de dizer-lhe para adivinhar, mas consegui me controlar. — Um molho vermelho.

Ele parou uns instantes para pensar e em seguida acrescentou vários itens à lista. Continuou me questionando, prato por prato, o que eu consumira na noite anterior durante o jantar com Henri e seus amigos: sopa, peixe, frango, os diversos vinhos, a geléia que acompanhava o frango, o molho e o recheio do peixe, as ervilhas, os aspargos frescos.

- Com molho holandês? - Ele indagou. Eu assenti e ele anotou.

- E a sobremesa?- Perguntou ele quando chegamos ao fim.

- Minha cozinheira inglesa preparou um bolo - informei.

- Compreendo - murmurou ele ao listar os ingredientes: ovos, farinha de trigo, geléia de framboesa, xerez, creme batido, lascas de amêndoas, cerejas ao marasquino.

- Café?

- Não.

- Nenhuma bebida depois do jantar?

- Uma taça de champanhe - eu disse - e fumei vários cigarros - acrescentei, imaginando ser o que ele queria que eu confessasse.

A informação não pareceu interessá-lo. A essa altura, ele já preenchera três folhas e estudava-as com a minúcia de um contador.

- Bem, agora vejamos - disse ele - Feche os olhos enquanto eu leio cada item que anotei. Quero que você imagine um prato vazio e, à medida que eu for contando os ingredientes, visualize-os formando uma pilha no prato. Ou melhor ainda, imagine jogando as colheradas no lixo.

O Dr. Bieler pôs-se a ler bem devagar. Comecei a sentir tamanho enjôo que pensei que ia vomitar. Ao terminar, ele perguntou calmamente:

- Diga-me, que animal, inclusive um porco, iria ingerir tal mistura em menos de duas horas?

Fiquei estarrecida. Ninguém jamais havia falado comigo dessa maneira. Ele me lançou um sorriso zombeteiro, antes de me atingir em cheio:

- Por que você trata o seu estômago como se fosse uma lata de lixo?

Trocamos um sorriso de completa confiança. Compreendi que ele era o médico de que eu precisava e ele sabia que eu poderia ser curada.

O Dr. Bieler me contou que, quando cursava a faculdade de medicina, ele próprio fora uma pessoa doentia, com asma e problemas nos rins.

Seus professores recomendavam todos os tratamentos convencionais, mas ele estava cada vez pior. Por fim, ele encontrou um livro, há muito tempo esgotado, sobre o jejum. Como havia tentado de tudo sem sucesso, achou que não tinha nada a perder, a não ser o peso supérfluo. À medida que emagrecia, seus amigos e professores ficaram preocupados. No entanto, ele não se sentia mal e, quando havia perdido 27 kg, estava livre também da asma e dos distúrbios renais.

Ele começou a ler livros sobre medicina natural, escritos por médicos americanos que haviam estudado e clinicado no início do século, antes que os médicos passassem a receitar apenas medicamentos padronizados, produzidos pelos grandes laboratórios farmacêuticos internacionais. A essa altura, tornou-se um dissidente e voltou ao bom senso usado em época mais sadia.

Achei que suas palavras faziam sentido. Na verdade, só de ouvi-lo já me sentia melhor. Ao fim de uma hora e meia, disse que eu podia recolocar os brincos. Receitou-rne uma série de lavagens intestinais e uma dieta consistindo de sopa de legumes feita com abobrinha, salsão e vagem, pedindo que retomasse dentro de uma semana.

Antes de sair perguntei:

- Por que me pediu para tirar os brincos?

- Para ver seus lóbulos. Lóbulos compridos, como os seus, indicam glândulas supra-renais sadias.

Os primeiros dias foram difíceis e, à medida que meu organismo eliminava as toxinas acumuladas, Henri protestava indignado que em vez de me curar eu acabaria ainda mais doente. No entanto, quando voltei para o Dr. Bieler, eu me sentia outra mulher. Ao apresentar-me ao estúdio para o próximo filme, tinha a pele sedosa, os olhos claros e brilhantes e os nervos tranqüilos.

O Dr. Bieler era um grande médico porque era um excelente professor. Ensinou-me coisas simples como: Não existem milhares de distúrbios físicos, apenas um: a toxemia. Envenenamos a nós mesmos e uns aos outros. A dor é um sinal divino, enviado pelos céus, por Deus, pela Mãe Natureza, o que seja, advertindo-nos que é preciso mudar nossos hábitos, parar de nos envenenar, desintoxicar-nos. Se nos alimentamos de maneira simples, comendo alimentos naturais em quantidades pequenas, nosso maravilhoso organismo se cura naturalmente. Cada indivíduo é responsável pela própria saúde. Ele disse que não permitia que seus pacientes tomassem qualquer medicamento, nem mesmo uma simples aspirina. Tomar analgésicos é tratar os sintomas, advertiu, é loucura semelhante a desligar o alarme e deixar o fogo se alastrar.

À sua maneira, o Dr. Bieler era um gênio. Ele modificou a minha vida. No entanto, era tão modesto quanto o preço da sua consulta: três dólares.

Fonte: Um Assassinato Perfeitamente Legal - Nossa Alimentação. Organizado por Hildegard Bromberg Richter. Paulus, São Paulo, 1997.


Esta coluna é atualizada mensalmente, dia 19.
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