COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

2ª quinzena de junho de 2008 - Coluna 110
(Próxima coluna: 03/07)

AMOR, ETERNO AMOR

Há pessoas que fazem de sua vida privada um verdadeiro circo com entrada franca, anúncio em tv, pipoca no ato do desfecho – ou fecho para um mal fadado conto barato de amor.

Há pessoas que necessitam da aprovação pública, arrotando um falso sentimento sublime, bradado aos 4 ventos (e mais alguns), estampando um sorriso zircônia, transformando a tal vida privada (já citada anteriormente) na própria, ou, como dizem aqui pelo sul, na patente (patente, de onde eu venho, tem outro significado), puxando a descarga depois da cagada (desculpem o termo, mas é a mais pura realidade) pública e patente (não mais privada). Enfim: encurtando o caminho, aqui vai uma pequena história (sim, História, embora não digna de nota nos livros ou registros oficiais, que valha qualquer coisa com a duração maior que 15 minutos de fama – e olhem que esse tempo já é muito pro caso em questão!).

Na hora dita definitiva, houve um bater de portas, devolução de chaves, término de conta corrente, decorrente das contas pequenas, médias, amenas, grandes, ou mesmo graves. Ninguém dá desconto no tempo, nem no amor. E na hora das cobranças sempre aparecem juros escusos, somatórias obtusas, desaforos impagáveis. Nada que possa ser debitado no cartão das flores; ou pago em suaves prestações de carinho; ou mesmo serviço comunitário na faxina da casa; enfim: nada mais a declarar, um dos dois sai de casa.

Foi ele quem saiu, num rompante de amor-próprio ferido, cansado de ser tapete sobre o qual a doidivanas insistia em desfilar seu salto exagerado. Ele jurou não voltar; ela, a não aceitá-lo de volta.

De Repente (Vinícius de Morais)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Não, mestre Vinícius, nada disso. Que nessa história banal não cabe poesia, nem a mais vã das filosofias, nem mistério que nos torne pensantes a tentar decifrar as teias obscuras das duas almas em questão. O umbigo é mais ao centro, a vala é comum, o interesse é mútuo, encostando cabecinhas no ombro, aviltando nosso raciocínio, subjugando nosso sentimentalismo barato. Nem Baratox nos salvaria.

E o retirante encosta-se em ombros outros: novos falsos amigos (como lhe convém). Consegue guarida, ajuda, trabalho, comida, dinheiro emprestado pro choppinho de sexta-feira e até tenta um novo amor, espalhando mentiras e o nome da nova amada, pretensa futura Amélia, que há de lhe dar abrigo, comida, roupa nova ou limpa e passada, dinheirinho pro choppinho de sexta e até (pasmem!) trabalho. Não satisfeito com emprego, vai logo pedindo sociedade. O jogo é bruto, é fruto da sedução de galanteador barato se achando, do amor, profissional.

Por seu lado, a mãe-esposa-amante-abandonada faz seu joguinho manjado, infernizando e envenenando a nova trupe do mal amado. Fala horrores do moço: não tem onde cair morto, sem família, ninguém sabe de onde veio, seprocado, sem eira – beira, nem sabe o que é –, aproveitador, galanteador, canalha, esse meu bem amado. E nas entrelinhas percebe-se a ansiedade pela volta do mal falado, mal fadado grande amor.

Mas, como Amélias andam em falta e os possíveis novos amigos não nasceram ontem, o gajo recebe cartão vermelho do grupo, ainda no final do primeiro tempo do jogo. Sai ofendendo a platéia, jurando vingança, prometendo, qual político: vocês vão ter que me engolir.

E a noiva o aguarda à soleira da porta da casa. Enfim, ele voltou. Deu trabalho. Ele, por seu lado, sem saída ou entrada que lhe dê novo rumo, aceita o abraço de boas vindas, dá-lhe um beijo de faz-de-conta, e os dois se redescobrem apaixonados.

Na Tv local, até nos noticiários, o convite público pra que a demonstração de amor fique patente. A gente até consegue mastigar... Mas, engolir... Ta difícil!


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